Título: CUT e MST cobram reforma agrária
Autor: Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2005, Política, p. A16

Reunidos ontem em São Paulo, sindicalistas da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) pouparam o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, pela lentidão nos assentamentos e descarregaram a cobrança sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Membro da Democracia Socialista, tendência de esquerda do PT, Miguel Rossetto participou ontem de um debate organizado pela CUT, com sindicalistas e representantes do Movimento dos Sem Terra (MST). Na sede da central sindical, em São Paulo, Rossetto disse "Temos um problema real de recursos para este ano. Houve um contingenciamento de 75% do orçamento que executamos em 2004. " Dos R$ 3,7 bilhões destinados à pasta o governo contingenciou R$ 1,7 bilhão e o corte mais significativo foi feito para a obtenção de terras: o presidente congelou R$ 480 milhões dos R$ 755 milhões -considerados insuficientes (a pasta pedia R$ 1,4 bi). "O governo tem suas razões", desconversou. Os sindicalistas demonstraram forte descontentamento com os rumos da política voltada aos trabalhadores rurais. Paulo de Tarso Caralo, secretário de Política Agrária da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), reclamou do número de famílias assentadas, menor do que o defendido historicamente pelo PT. "Em quatro anos, seriam assentadas 1 milhão de famílias. O governo sinaliza 500 mil, mas no fim não serão nem 250 mil" , criticou. "Desse jeito, vamos levar 50 anos para conseguir fazer a reforma." A representante dos trabalhadores rurais na direção da CUT, Elisângela Araujo, desabafou o sentimento de "frustração" e "desapontamento" sentido pelos companheiros e cobrou incentivos para o desenvolvimento rural. "Não basta assentar, só divulgar números. Muitos dos assentamentos são verdadeiras favelas. Tem que ter produção, políticas sociais para as famílias ficarem no campo." O MST questionou as prioridades do governo e a política econômica, mas evitou críticas diretas, para não "transformar o governo em inimigo". "A reforma agrária é uma decisão política e faz parte de um conjunto de investimentos sociais. Não basta ter vontade, é preciso disponibilizar recursos e mexer nas leis de desapropriação de terras", reclama Delwek Matheus, membro da direção nacional do movimento. "Estamos insatisfeitos com o presidente pela reforma agrária, mas não podemos eleger o governo como nosso inimigo. " As desavenças estão presentes entre os próprios petistas. A esquerda do PT tem demonstrado insatisfação com o direcionamento dado pelo governo Lula às políticas sociais. A mais recente manifestação foi durante as comemorações dos 25 anos do partido, em São Paulo, há dez dias. O líder do MST, João Pedro Stédile, criticou o a política agrária do governo. "A reforma agrária anda a passos de tartaruga e está aquém do governo anterior", disse na ocasião. "A história registrará o governo Lula como o que mais concentrou renda." Ontem, cerca de 1,5 mil integrantes do MST bloquearam uma ponte das barragens da Hidrelétrica de Xingó, entre Sergipe e Alagoas, para protestar contra a demora no assentamento das famílias. Na semana passada, outros membros do movimento de Alagoas fizeram greve de fome para pedir mudanças no tratamento do Incra à questão da terra. Além das ocupações, o MST programa uma marcha de São Paulo a Brasília, entre 15 de abril e 03 de maio, para pressionar o governo.