Título: Lula quer plano para nanotecnologia
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2005, Especial, p. A20

A nanotecnologia é a última moda no mundo da ciência. Equipamentos sofisticados que permitem manipular átomos e moléculas têm ajudado os cientistas a modificar suas propriedades e desenvolver técnicas e materiais com aplicações em diversas indústrias. Governos de países mais avançados, como os Estados Unidos e o Japão, planejam investir neste ano bilhões de dólares em pesquisas nessa área. No Brasil, as autoridades envolvidas com a política industrial têm prestado cada vez mais atenção nisso. Em outubro, cientistas e burocratas que acompanham o trabalho dos pesquisadores que atuam nesse campo fizeram uma apresentação sobre o tema para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que encomendou um programa de ação mais detalhado. Ninguém sabe ainda o que exatamente deve ser feito, mas o assunto ganhou destaque na agenda de Brasília. Empresários e funcionários que participam das discussões sobre a política industrial dizem que a nanotecnologia passou a ser vista como uma área mais promissora do que a microeletrônica, escolhida como alvo prioritário da política na época em que ela foi lançada. Essa mudança é resultado das dificuldades encontradas na área de microeletrônica. O governo não consegue convencer multinacionais que fazem chips e outros componentes a se instalar no país. Medidas lançadas para desenvolver fabricantes locais falharam também. Investir em nanotecnologia representaria uma aposta menos arriscada no futuro, dizem os defensores da idéia. "As barreiras para entrar na indústria de componentes eletrônicos são muito elevadas", diz o secretário de Política e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência e Tecnologia, Cylon Gonçalves da Silva. "Na nanotecnologia, as barreiras são menores, os investimentos necessários não são tão altos e as oportunidades que se abrem para o país são imensas." O ministério tem promovido consultas entre especialistas para definir prioridades. Também será aberto um processo de seleção para identificar no meio acadêmico as melhores propostas para o Laboratório Nacional de Tecnologia Industrial, que o governo pensa em criar para promover pesquisas nas áreas de microeletrônica e nanotecnologia em parceria com as empresas. Representantes do governo, da academia e da indústria fizeram várias reuniões no ano passado para discutir o que fazer com esse laboratório, mas foi impossível chegar a um acordo. Alguns acham que o ideal seria aparelhar institutos existentes e promover a cooperação entre os pesquisadores dessas áreas. Outros acham melhor criar um centro de pesquisas novo em folha. Uns acham que o novo laboratório deveria fazer coisas como ajudar a indústria farmacêutica a encontrar novos medicamentos e os fabricantes de plásticos e produtos têxteis a desenvolver novos materiais. Outros discordam. "O foco deveria ser o complexo eletrônico", diz Sergio Bampi, do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um participante ativo desse debate. Apesar do enorme potencial para a indústria e da curiosidade que o tema desperta, a nanotecnologia ainda é essencialmente um assunto acadêmico no Brasil. As maiores universidades do país estão de olho nos milhões de reais que devem irrigar o novo laboratório que o governo deseja criar. Mas são poucas as empresas que parecem se preocupar verdadeiramente com o assunto. No ano passado, o Ministério da Ciência e Tecnologia liberou R$ 3,5 milhões para projetos de pesquisa das universidades na área de nanotecnologia que tivessem envolvimento com o setor privado. Uma dúzia de propostas foi aprovada. Algumas tiveram o apoio de grandes empresas como a Braskem, do setor petroquímico. O ministério promete encomendar mais projetos dessa natureza neste ano. (RB)