Título: Governo não consegue atrair fábricas de chips
Autor: Ricardo Balthazar
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2005, Especial, p. A20

O governo tem encontrado dificuldades para atrair fabricantes estrangeiros de chips e componentes eletrônicos para o país, sonho acalentado há vários anos por sucessivas administrações. A indústria brasileira importa praticamente todos os componentes de que precisa e no ano passado gastou US$ 1,4 bilhão com isso. Funcionários do governo viajaram para vários países para visitar indústrias e laboratórios e conversar com potenciais investidores. Mas essa movimentação resultou em pouca coisa. Apenas uma empresa anunciou publicamente a disposição de investir no Brasil, a Smart Modular Technologies, uma fabricante de memórias que está no país desde 2002. Hoje a empresa importa os componentes e faz a montagem final das memórias numa fábrica em Guarulhos (SP) que comprou da japonesa NEC. Ela planeja realizar no país etapas mais sofisticadas da montagem das memórias e promete divulgar até maio detalhes sobre o investimento. O Brasil já teve mais de duas dezenas de fabricantes de componentes eletrônicos, mas a maioria fechou as portas porque não resistiu à abertura comercial na década de 90. A maior parte da fabricação desses componentes foi deslocada para a Ásia e é difícil para países como o Brasil superar as vantagens que outros lugares oferecem às indústrias. Atrair uma fábrica dessas pode custar milhões de dólares em benefícios fiscais. "É muito mais difícil conseguir isso hoje do que alguns anos atrás", afirma o empresário Wanderley Marzano, dono da Aegis Semicondutores, um pequeno fabricante nacional que sobreviveu à competição com os asiáticos explorando pequenos nichos desse mercado. Muitas pessoas no governo e no meio empresarial acham um desperdício gastar tanto dinheiro para atrair fábricas de chips. Para elas, seria melhor investir na formação de profissionais capazes de desenhar componentes e produtos que poderiam explorar as vantagens oferecidas por fabricantes de chips estrangeiros. O Ministério da Ciência e Tecnologia ampliou os recursos para essa área, mas os investimentos ainda são pequenos. Sua maior aposta está no Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), que abrigará equipamentos doados em 2001 pela americana Motorola. O projeto deve começar a andar neste ano com a contratação dos primeiros pesquisadores. (RB)