Título: Tarifas impulsionam resultados das elétricas e lucros sobem 40%
Autor: Leila Coimbra
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2005, Empresas &, p. B3

As empresas de energia elétrica conseguiram superar a crise do setor e em 2004 tiveram lucro operacional 23% maior que o registrado em 2003. O lucro líquido cresceu ainda mais: 40,4% em relação ao apurado no ano anterior e atingiu R$ 5,16 bilhões, somados os resultados de 24 companhias do setor, em análise elaborada pela consultoria Economática. Em 2002, auge da crise do setor, as mesmas 24 companhias obtiveram, juntas, prejuízo de R$ 11,2 bilhões. Os valores da Economática estão corrigidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Os bons resultados foram impulsionados por uma combinação de aumento da atividade econômica, e consequentemente da retomada do consumo de energia, mas também pelo alto índice de reajuste das tarifas em 2004. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), as tarifas de energia subiram 18,07%, em média, em 2004. O reajuste ficou muito acima da inflação, considerando-se que o IPCA variou 7,6%, conforme o IBGE, e o Índice Geral de Preços ao Mercado (IGP-M), que corrige parte das tarifas de energia, subiu 12,4% em 2004, segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV). A dívida total caiu, mas as despesas financeiras líquidas subiram R$ 500 milhões em 2004, atingindo R$ 4,3 bilhões, frente aos R$ 3,8 bilhões registrados no ano anterior. Isso porque em 2003 as empresas obtiveram um ganho financeiro extraordinário com a desvalorização de 18,2% do dólar, avalia Fernando Exel, presidente da Economática. Em 2004, o dólar se desvalorizou menos, caiu 8,1% frente ao real, e as empresas ganharam menos financeiramente que no ano anterior. No quesito lucro operacional próprio sobre a dívida, que mede a capacidade de pagamento de dívidas pelas empresas, o índice do setor em 2004 foi de 26,6%. Significa que as empresas conseguiram produzir de lucro R$ 26,6 para cada R$ 100 de dívida. Esse índice afasta a possibilidade de inadimplência do setor, segundo análise de Exel. Em 2002, elas lucravam apenas R$ 12 de cada R$ 100 que deviam. "Na época, acendeu-se uma luz vermelha indicando a incapacidade do setor de honrar sua dívidas". Em 2003, o índice de lucro operacional sobre a dívida destas 24 empresas foi de 20%. O levantamento da Economática não contabilizou os resultados da maior empresa do setor, a Eletrobrás, porque a estatal ainda não enviou formalmente seus resultados em 2004 à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à Bovespa. Mas a Eletrobrás havia divulgado na semana passada alguns números preliminares que surpreenderam o mercado. No quarto trimestre do ano passado a estatal apresentou um prejuízo de R$ 94 milhões, contra um lucro de R$ 1,035 bilhão no mesmo período de 2003. Mas os bancos de análise projetavam perdas ainda maiores. O banco Brascan, por exemplo, calculava um prejuízo de R$ 793 milhões para a estatal entre outubro e dezembro passados. E o banco BBVA calculava prejuízo de R$ 941 milhões no último trimestre de 2004 para a Eletrobrás e perda de 30% na sua receita financeira no último trimestre de 2004. O impacto negativo no último trimestre em função do câmbio, porém, não impulsionou uma perda anual. Em 2004, a Eletrobrás anunciou um lucro líquido de R$ 1,293 bilhão, o que equivale a um crescimento de 300% em relação ao resultado verificado no exercício anterior, quando a empresa registrou lucro líquido de R$ 323 milhões. Das 24 empresas apresentadas no balanço da Economática, apenas duas apresentaram receita menor em 2004 frente ao faturado em 2003: a geradora Duke Energy (Geração Paranapanema) e a distribuidora CPFL Piratininga. A Duke Energy Geração Paranapanema divulgou ontem que fechou o balanço de 2004 com lucro líquido de R$ 46,60 milhões, contra os R$ 92 milhões verificados no ano anterior. A empresa registrou no ano passado uma receita líquida de R$ 641,3 milhões, ante os R$ 680, 6 milhões de 2003. Apesar do bom resultado de um modo geral, algumas empresas tiveram em 2004 um lucro menor que em 2003. É o caso da Elektro, distribuidora do interior e litoral paulista que encerrou o ano passado com lucro de R$ 259,8 milhões, montante 27,28% menor que os R$ 357,3 milhões, também positivos, registrados em 2003. O desempenho é reflexo do resultado financeiro, que fechou negativo em R$ 114,4 milhões. No ano anterior, a empresa obteve ganho de R$ 151,6 milhões neste item. A AES Eletropaulo também apresentou em 2004 um lucro líquido 93,5% menor, de R$ 5,6 milhões. O resultado foi prejudicado pelo aumento das despesas operacionais e da despesa financeira líquida apurada no exercício de 2004 . A despesa financeira consolidada subiu 68,5% entre 2003 e 2004, para R$ 1,071 bilhão. A receita operacional bruta cresceu 15,4%, para R$ 9,981 bilhões, reflexo do reajuste tarifário médio de 17,9% em 4 de julho, complementado em 0,7% em 21 de setembro de 2004.