Título: Seguro popular chega à economia informal
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 30/03/2005, Finanças, p. C4

Caseiros de sítios, domésticas e diaristas, encanadores e camelôs, profissionais da economia informal em geral. Esse é o perfil dos mais novos consumidores de seguros de vida populares, apólices de preços muito baixos (de R$ 3,50 a R$ 10 por mês) e coberturas restritas, que estão sendo vendidos desde o ano passado por algumas seguradoras, principalmente por aquelas ligadas a grandes bancos. A Bradesco Vida e Previdência e a Caixa Seguros, cujo principal canal de distribuição é a rede de agências dos dois gigantes do varejo financeiro, Bradesco e Caixa Econômica Federal (CEF), têm juntas mais de um milhão de segurados de vida entre pessoas das classes de renda C, D e E. Na Bradesco Vida e Previdência, o seguro popular (que custa R$ 9,60 e indeniza no máximo de R$ 6,5 mil) começou a ser distribuído nas agências no ano passado e atingiu a marca de 500 mil apólices vendidas ontem. Marco Antonio Rossi, presidente da empresa, conta que grande parte dos seguros são comprados por patrões para seus empregados. "O seguro popular foi o grande alavancador de vendas porque com ele conseguimos atingir uma camada da população que não tinha acesso ao seguro antes", afirmou Rossi. Antes, o seguro mais barato vendido pela seguradora era de R$ 40 mensais. A carteira de seguros de vida individuais (tradicionais e populares) da Bradesco pulou para 2 milhões de segurados em comparação a 1,3 milhão em janeiro de 2004. No total a seguradora tem hoje 6 milhões de segurados de vida (5,3 milhões um ano atrás), porém a maioria são segurados de vida em grupo. A Caixa Seguros, empresa controlada pelo grupo francês CNF, que vende através do balcão da CEF, vendeu 597 mil seguros de acidentes pessoais que custam R$ 3,30 por mês. Seu seguro de vida "Caixa Vida da Gente" que tem sido alvo de uma campanha publicitária - custa a partir de R$ 0,25 por dia - é mais recente e vendeu 78 mil apólices, a mesma quantidade vendida pela Aliança do Brasil, empresa do Banco do Brasil em parceria com a seguradora Aliança da Bahia. Além da indenização por morte e acidentes do segurado, estas empresas adicionam à apólice a cobertura de despesas com funeral (em torno de R$ 2 mil a R$ 3 mil) e um título de capitalização que dá direito a concorrer a prêmios em dinheiro por sorteio. A Caixa oferece ainda auxílio alimentação de R$ 1 mil, cesta básica à família do segurado por seis meses, em caso de acidente e o pagamento da indenização em dobro, no caso de a esposa do titular estar grávida na ocasião do sinistro. A distribuição é o ponto chave. Por ter um tíquete médio muito baixo, coisa como R$ 5, só ganha dinheiro com seguro popular quem tem escala, daí a liderança dos dois maiores conglomerados financeiros do país. Mas há experiências interessantes fora das agências bancárias. "Esse é um produto para pescar de rede", definiu Hyung Mo Sung, vice-presidente da Canais Estratégicos da Mapfre Seguros, empresa independente (não ligada a conglomerados bancários) que vende seguros populares através de uma rede de corretores - pessoas físicas e jurídicas. Mo Sung tem orientado seus corretores a venderem junto com o seguro de automóveis e buscar parceria com instituições e empresas que tenham acesso ao público de baixa renda. As apólices da Mapfre, que custam R$ 25 por ano, são distribuídas entre freqüentadores de igrejas e comunidades de bairro. Citando dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), a Caixa Seguros calcula que o público potencial para seguros populares é de "pelo menos 10 milhões de clientes". São pessoas que pertencem à parcela da população que vive com renda mensal de até dois salários mínimos, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) e que, atualmente, representam 53,4% dos brasileiros, o equivalente a cerca de 88 milhões de pessoas.