Título: Procuram-se candidatas
Autor: Maakaroun, Bertha; Beghini, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 14/03/2010, Política, p. 8

Partidosbuscam mulheres para preencher cota de 30% de candidaturas, masprevisão é não alcançar o percentual. Em ranking com 137 países, Brasilestá na 110ª posição em relação à participação feminina na política

Caça às mulheres. Os partidos políticos estãoà procura de candidatas para compor as chapas proporcionais àsassembleias legislativas e à Câmara dos Deputados. Embora mais dametade da população do país seja do sexo feminino, faltam aspirantes àpolítica. A julgar pela vã batalha retórica empreendida por líderespartidários na tentativa de cooptá-las, neste pleito, assim como em1998, 2002 e 2006, as chapas mal conseguirão integrar 15% departicipação feminina. Não é fácil preencher as chapas. Vamos ter detrabalhar mais e mais, mas dificilmente conseguiremos atingir a cota de30% de candidaturas femininas, afirma Roberto Freire, presidentenacional do PPS.

O problema se repete em todos os estados e em todos os partidos,avança o deputado federal Rodrigo de Castro, secretário nacional doPSDB. O PT tem tradição de candidaturas femininas competitivas. Mas,mesmo assim, tem dificuldades para envolver as mulheres na disputaeleitoral, considera o deputado federal Reginaldo Lopes, presidente doPT de Minas. Nada que surpreenda. Para a Câmara dos Deputados, aparticipação feminina tem sido baixa: em 1998, as mulheresrepresentaram 10,3% das candidaturas; em 2002, 11,4% e, em 2006, 12,7%.

Motivos para resistir aos apelos, elas têm. Algumas revelamexperiências frustrantes e repassam suas histórias em família e entreamigos. A cabeleireira Izabel Lina Alves, 45 anos, guarda tristeexperiência de sua aventura eleitoral, quando concorreu pelo PTN a umacadeira na Assembleia Legislativa mineira. Prometeram-me recursos parabancar a campanha e fui dando cheques pré-datados. No fim, estavaendividada e só, afirma. Por isso não pretendo voltar à política,garante. A estrutura dos partidos está a serviço da eleição de unspoucos. E em geral, homens, acrescenta Izabel.

Na lanterna

Para a chefe do Departamento de Ciência Política da UniversidadeFederal de Minas Gerais, Marlise Matos, ao longo das sete últimasdécadas, tem sido desproporcional a participação político-institucionaldas mulheres no Brasil, principalmente quando se leva em conta o seudesempenho em outros segmentos. No mundo todo é baixa a presençafeminina nos parlamentos. Mas no Brasil a situação é ainda pior. O paísestá na 110ª posição, com 8,8% de cadeiras na Câmara dos Deputadosconquistadas por mulheres. Nesse conjunto de 137 países estudados eclassificados pela Inter-Parliamentary Union, o Brasil se iguala, porexemplo, aos países árabes, que também têm cerca de 9% de representaçãofeminina, explica.

Em pelo menos uma cidade mineira, porém, os partidos não enfrentamdificuldades para conseguir mulheres candidatas. Em São João doManhuaçu, na Zona da Mata, elas são maioria na Câmara Municipal. Dosnove vereadores, cinco são mulheres no único município de Minas ondeelas têm a supremacia no Legislativo. Por ser mulher, tenho maisliberdade de lidar com as eleitoras. Muitas vezes, trabalho comopsicóloga, diz a vereadora Lucilene Ornelas (PR), a parlamentar maisexperiente da Casa. Ela cumpre o segundo mandato.

O número

12,7%

Percentual de candidaturas femininas à Câmara dos Deputados em 2006