Título: Exportações atingem US$ 101 bi em 12 meses
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2005, Brasil, p. A8

O forte aumento nas exportações na semana do feriado de Páscoa levou o saldo do comércio exterior a US$ 902 milhões, entre a segunda-feira e a Sexta-Feira Santa, e fez saltar as exportações acumuladas em 12 meses a US$ 101 bilhões. O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, afirmou que o governo já calcula que as exportações, neste ano, chegarão a US$ 112 bilhões, e a US$ 120 bilhões, em 2006. Grandes exportadores reunidos ontem no Palácio do Planalto para comemorar as cifras recordes com o presidente Lula, lembraram, porém, que ainda representam fortes entraves à exportação a forte carga de imposto sobre a compra de máquinas e equipamentos, as carências na infra-estrutura e as oscilações na cotação do dólar.

"Entre as dificuldades que temos está a cobrança de impostos sobre investimentos", queixou-se o presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, após traçar um cenário otimista para as exportações de minérios, graças à forte demanda internacional, principalmente da China. Os exportadores pagam ICMS e IPI sobre insumos, máquinas e equipamentos destinados à produção e não têm como compensar esse gasto nos preços finais, porque vendem ao exterior, lembrou Agnelli. Outros grandes empresários, como Sérgio Barolo, da Cargill, e Antônio Ermírio de Moraes, da Votorantim, aproveitaram o encontro para fazer elogios a Lula e traçar um cenário também positivo das perspectivas do comércio exterior. Barolo pediu menos burocracia oficial para facilitar ações do setor privado destinadas a eliminar gargalos de infra-estrutura nos portos. Furlan, ao relatar queixas dos empresários, disse que a recém-criada Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) estuda formas de reduzir os impostos cobrados sobre investimentos. Afirmou que os gargalos de infra-estrutura já são objeto de planos do governo. "Sobre câmbio, o presidente e o ministro Palocci não comentaram nada", relatou, com um sorriso. O encontro com os exportadores foi acompanhado por Palocci, Furlan e pelo vice-presidente, José de Alencar. O resultado da balança comercial do país, na semana passada, foi influenciado pela Semana Santa. Empresários anteciparam embarques e a média diária das exportações aumentou para inéditos US$ 509 milhões. As importações subiram bem menos, de uma média próxima a US$ 265 milhões nas primeiras três semanas do mês para US$ 283 milhões diários. Na média do mês, as exportações estão 26,5% maiores que no mesmo mês de 2004, e as importações cresceram 15%. O ministro Furlan, que hoje estará em evento na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) para falar de ações contra a pirataria e falsificação, negou enfaticamente que seu ministério tenha preparado um estudo e planeje a imposição de barreiras contra importações de produtos chineses, como salvaguarda contra o crescimento das compras de mercadorias da China - contra as quais se queixam indústrias nacionais. Até agora, nenhum empresário protocolou no ministério algum pedido de investigação contra possíveis importações desleais da China, repetiu o ministro. A maioria das compras feitas naquele país é de matérias-primas para a produção industrial, especialmente componentes eletrônicos para fabricação de produtos como celulares, exportados com sucesso pelo Brasil, defendeu Furlan. Casos como o da indústria de brinquedos, que se queixa da importação ilegal de produtos chineses, se referem a falsificações e contrabando, que são "caso de polícia", não de defesa comercial, argumentou. Ao prestigiar o anúncio da iniciativa dos grupos Pão de Açúcar e Casino, francês, para venda de mercadorias brasileiras na França, o presidente Lula, em uma crítica indireta ao antecessor, Fernando Henrique Cardoso, lembrou que, entre 1995 e 2002, o país representou entre 0,92% a 0,96% do comércio internacional, e que, em seus dois anos de governo, o país já representa 1,1% das exportações mundiais. A diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou financiamentos de US$ 3,48 milhões para apoiar a exportação de três empresas: a Scania Latin America, a Daimler Chrysler do Brasil e a Techint S/A. A Scania exportará tratores para o Chile, e a Daimler e Techint venderão caminhões e escavadeiras para a Argentina. Uma das operações apoiadas pelo banco, de até US$ 2,3 milhões, para a Daimler Chrysler do Brasil e Techint, tem como objetivo a exportação de 28 caminhões Mercedes e de seis escavadeiras hidráulicas marca Komatsu para a Argentina.