Título: PL cobra de Lula cumprimento de acordos
Autor: Henrique Gomes Batista e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2005, Política, p. A9

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou ontem a se reunir com líderes da base aliada da Câmara para tentar recompor seu apoio no Congresso. Na primeira conversa, com o PL, ouviu uma dura cobrança de verbas e de cumprimento de acordos para que a situação melhore. "O Parlamento é igual ao jogo do bicho, tem que ter confiança", afirmou o líder do partido, Sandro Mabel (PL-GO). O presidente, segundo Mabel, estava muito sensível nessa sua tentativa de recompor a base: "A frase mais importante que ouvi dele é que a maior lição que tive da derrotas nas eleições da Câmara é que precisamos ouvir mais a base. Aquilo já passou e queremos mudar daqui pra frente". Lula também se reuniu com líderes do PSB. O partido chegou a forçar a conversa - segundo Mabel -, e cobrar todo o orçamento que o Ministério do Transportes, dirigido por Alfredo Nascimento, tem previsto para 2005. "Nós somos da base fiel do governo, mas o governo agora tem que nos ajudar a ser fiel", disse. Segundo o líder do PL, o presidente ouviu os apelos do partido. "Lula prometeu que vai se reunir nesta semana com a equipe econômica para garantir que não faltará verba para o ministério", afirmou. De acordo com Mabel, dos R$ 7 bilhões previstos originalmente neste ano para o Ministério dos Transportes, o governo pretendia liberar apenas R$ 4,2 bilhões. "Precisamos ter espaço para fazer a nossa missão", disse. Ele afirmou que o partido não cogita sair do governo pelas promessas do presidente. Ele lembrou que a base só será reconquistada com a força da caneta. "O que precisamos é de tinta na caneta, que libera verbas para coisas que melhoram o país". Ele confirmou que a situação no Congresso está ruim: "Desde a eleição de Severino a situação está diferente, até mesmo a posição dos líderes". De volta ao posto de coordenador político do governo, o ministro Aldo Rebelo passou o dia ontem no Congresso numa tentativa de retomar a credibilidade para negociações com os parlamentares e delimitar novamente seu terreno de atuação. Por pressão do PT, o ministro passou meses ameaçado de perder o cargo e acabou se afastando de de algumas articulações para votação de projetos do interesse do governo. Rebelo esteve ontem com os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Severino Cavalcanti; e com os líderes do governo nas duas Casas, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP). Na peregrinação, o ministro foi várias vezes questionado se tinha mesmo segurança para atuar no cargo ou se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia anunciar em breve novas alterações na composição do Ministério, afastando-o das suas atividades. Pragmático, como sempre, Aldo disse que a composição do governo é problema do presidente. "Não vou cogitar soluções para a reforma ministerial, porque da última vez que isso foi feito as cogitações não deram os resultados desejados", disse o ministro. "O esforço que estamos realizando é o de aperfeiçoar relações (no Congresso) que já são satisfatórias", acrescentou ele, quando questionado sobre a dificuldade de o Executivo monitorar as ações de Severino Cavalcanti e unificar a base na Câmara. Para Rebelo, a decisão do presidente Lula de entrar na articulação política dialogando com os partidos da base é positiva, assim como a ordem dada pelo presidente para que todos os ministros atuem politicamente e assumam uma interlocução com o Congresso. O ministro disse que esse foi um "sábio conselho" de Renan Calheiros. Na última reunião ministerial, o presidente atribuiu a todos os ministros a tarefa e a responsabilidade de obter votos no Congresso. O fato é que a ordem de Lula parece ter surtido efeito. Hoje, o Senado recebe para audiências públicas os ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Walfrido Mares Guia (Turismo). Amanhã, será a vez dos ministros Tarso Genro (Educação) e Patrus Ananias (Desenvolvimento Social). Além das reuniões de ontem, Lula esteve, na semana passada, com os dirigentes do PTB. Com o PMDB, o presidente deu largada a uma estratégia de aproximação com a ala oposicionista que visa à sua reeleição em 2006. No Senado, o governo trabalha com muito mais tranqüilidade. Apesar de ter perdido mais um senador da base - Geraldo Mesquita (AC) deixou o PT e filiou-se ao P-Sol -, o PMDB pretende anunciar em breve o aumento da bancada. O partido, que já é o maior da Casa, deve saltar de 22 senadores para 26.