Título: Governador teme que sucessão antecipada prejudique PSDB
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2005, Política, p. A10

A ofensiva do governo federal sobre os presidenciáveis em 2006 começa a levar oposicionistas a redobrar a prudência em relação à sucessão no próximo ano. "Quem tiver juízo, não precipita a eleição. Botar a cabeça para fora em ano pré-eleitoral é uma fria, principalmente se tratando de governadores. O cenário de amanhã pode ser completamente diferente do cenário que temos hoje. Qualquer opinião nossa pode resultar em um desastre administrativo, já que o PSDB é o principal partido de oposição", afirmou o governador de Goiás, Marconi Perillo. O goiano é um nome que aparece entre os presidenciáveis tucanos em uma circunstância muito remota: seria candidato na hipótese de nenhuma das principais apostas do partido (Alckmin, Fernando Henrique, o prefeito de São Paulo, José Serra, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, e o senador cearense Tasso Jereissati) aceitar entrar na disputa. O movimento contra a antecipação da corrida sucessória começou depois do governo sofrer a sua maior derrota política este ano, com a vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara dos Deputados. O primeiro gesto foi o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Espírito Santo, em que deixou no ar a possibilidade de ter tomado conhecimento de casos de corrupção envolvendo seu antecessor, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Nas semanas anteriores, Fernando Henrique vinha atacando o governo com frequência. Este mês, o ministério da Saúde decretou intervenção nos hospitais do Rio, administrados pelo prefeito César Maia (PFL), alegando irregularidades na aplicação de recursos repassados pelo Sistema Único de Saúde, exatamente no instante em que o pefelista estava tendo exposição no horário gratuito de seu partido . Logo em seguida, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin perdeu o controle da Assembléia Legislativa, no dia em que chegou de uma viagem aos Estados Unidos em que cumpriu uma agenda de presidenciável. O pefelista Rodrigo Garcia derrotou o tucano Edson Aparecido em uma eleição onde o PT jogou um papel fundamental. Em eleições anteriores, os petistas aceitaram sem discussão a eleição de tucanos para comandar o Legislativo paulista. Perillo discursou ontem em São Paulo para uma platéia hostil ao governo federal, em um almoço promovido pelo grupo de líderes empresariais (Lide), em que predominam dirigentes de empresas multinacionais, como da HP, Souza Cruz, HSBC, Nokia, Delta Airlines e outras. Nesses encontros, os empresários reunidos respondem a um questionário em que o governo federal é avaliado com nota de zero a dez. Nunca, desde novembro de 2003, a eficiência gerencial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu nota acima de cinco. A de ontem foi três e meio. Os 140 empresários que responderam o questionário também afirmaram que o cenário político supera a taxa de juros como um fator que limita o crescimento das empresas. Era um fator apontado como preocupante por 8% dos presentes em dezembro do ano passado e agora foi lembrado por 16%. Mesmo provocado pelos presentes, o tucano evitou ataques frontais ao governo federal. Ao formular uma pergunta ao governador, o presidente do HSBC brasileiro, Emilson Alonso, disse que faltava competência gerencial em algumas áreas do governo federal para implantar projetos. Em seu comentário, Perillo preferiu falar em tese: disse que um governo que não impõe limites para o loteamento político perde eficiência administrativa.