Título: Premiê Zapatero de olho em acordos comerciais
Autor: Juliano Basile e Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2005, Internacional, p. A11
O premiê espanhol, José Luis Zapatero, vai colocar em prática sua política de maior participação nos assuntos da América do Sul levando em baixo do braço uma série de acordos comerciais que ele pretende assinar na região. Para reavivar sua indústria de construção naval, a Espanha pretende vender navios e aviões de carga para a Venezuela e para a Colômbia. Esses acordos podem estar na pauta das discussões em Puerto Ordaz e em Caracas. Estima-se que a Venezuela vá pressionar pela criação de multinacionais de petróleo e de TV, a Petrosur e a Telesur, propostas defendidas há algum tempo pelo presidente Hugo Chávez. Essas empresas seriam controladas de modo conjunto pelos países da região a que elas se associassem. Mesmo que esse projeto mais ambicioso não seja discutido, pelo menos um acordo entre a espanhola Repsol e a estatal venezuelana PDVSA vai estar na pauta, segundo a vice-chanceler da Venezuela, Delcy Rodriguez. Nos moldes do que Chávez chama de mundo "multipolar", o papel de Zapatero poderia ser o de apoiador da unidade latino-americana. Na visão defendida por Caracas, os países menores teriam de se juntar para negociar com os EUA em melhores condições. A idéia de ter o premiê espanhol como um "padrinho" dessa unidade só é possível com Zapatero, pois seu antecessor, José María Aznar, tinha uma posição de alinhamento a Washington. Delcy Rodriguez disse que a Venezuela buscaria o apoio da Espanha para "a construção de um mundo multipolar, a serviço da paz e da estabilidade". Chávez vem fazendo loas a Zapatero, classificando-o como audaz líder socialista que se opôs ao governo "imperialista" do presidente George W. Bush. Após ter assumido o governo no ano passado, Zapatero imediatamente retirou suas tropas do Iraque, mudando o rumo da política externa espanhola. Não está claro o quanto a venda de navios espanhóis poderia incomodar as autoridades dos EUA, que vêm criticando muito Chávez por causa de seus planos de comprar helicópteros e 100 mil rifles Kalashnikov da Rússia. O presidente venezuelano nega que a compra das armas vá ameaçar a estabilidade na região. Ele afirma que elas são necessárias para a modernização do arsenal antiquado de seu país. É improvável que Zapatero e Lula venham a forçar uma melhora nas relações entre Caracas e Washington, mas a reunião certamente tentará resolver os problemas entre Venezuela e Colômbia.