Título: Brasil ainda mostra fragilidade externa
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2005, Finanças, p. C2

O Brasil exibe os indicadores de solvência externa mais favoráveis desde os anos 70, o que, em tese, sugere que o país está em situação mais confortável para enfrentar um choque externo e pode dispensar um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Mas o quadro não é o melhor na comparação com outras economias emergentes. A dívida externa encolheu US$ 13,556 bilhões em 2004. Com isso, o débito total, de US$ 201,374 bilhões, passou a representar 33,4% do Produto Interno Bruto (PIB), o menor percentual desde 1993. Mas o endividamento relativo permanece superior ao registrado um ano antes na China (13,9%), Taiwan (17,8%), Coréia (26,6%) e México (25,1%). Há alguns países, porém, mais endividados do que o Brasil: o Chile (46,7%), a Venezuela (48%) e a Indonésia (56,3%). Mas mesmo países mais endividados têm indicadores mais favoráveis, quando é analisada a capacidade de pagamento dos encargos da dívida. O Brasil atingiu uma relação de 14,8% entre o pagamento de juros da dívida e exportações, o melhor dado desde 1973. Mas, em 2003, o Chile - que é mais endividado - tinha uma relação de 5%; a Indonésia, de 7,5%; e a Venezuela, de 8,4%. A posição relativa do Brasil piora quando comparada com economias emergentes menos endividadas e mais abertas. É o caso, por exemplo, da Tailândia, que tem uma relação juros/exportações de 2,2%; ou com a Coréia, com 2,7%; e a China, 4,6%. A melhor relação entre os emergentes é a de Taiwan, com 0,2%. Esse indicador mostra que, embora as exportações tenham chegado a US$ 100 bilhões, os números ainda são modestos em relação ao PIB - que, em dólares, chegou à casa dos US$ 600 bilhões. Ou seja, em termos percentuais, algo como 16,66%. O percentual estimado para a Coréia em 2004 é de 37% do PIB; no México, de 28%. O Brasil, nos últimos anos, também promoveu uma virada em suas contas externas - passando de um déficit em conta corrente de 4,72% do PIB, em 1999, para um superávit de 1,92% do PIB nos 12 meses encerrados em fevereiro. Daqui por diante, porém, a perspectiva é que esse número convirja para o equilíbrio. Enquanto isso, a Rússia - ajudada pelo preço do petróleo - teve um superávit estimado em 10,2% do PIB em 2004; a Tailândia, de 8%; e o Chile, de 2,6% do PIB. Mas ainda há países com déficits, como o México (1,3%) e a Turquia (5,2%). As reservas internacionais têm tido excepcional recuperação. Estavam em US$ 61,936 bilhões no último dia 24, o que, em termos líquidos (excluem dinheiro liberado pelo FMI), significam pouco menos de US$ 35 bilhões. Esses dados ajudaram o Brasil a atingir, em dezembro, uma razão de um entre as reservas e os serviços da dívida. As reservas já representam 26,3% da dívida externa, o dado mais favorável desde o início da atual série histórica, de 1970. É inegável o avanço nas reservas registrado desde novembro de 2004, quando se encontravam em apenas US$ 22,186 bilhões. Mas as reservas são modestas quando comparadas com os US$ 609 bilhões da China (dados de dezembro, da "The Economist"). Pode-se ponderar que o Brasil precisa de menos reservas que a China, que tem o câmbio fixo, mas de qualquer forma naquele país elas representam algo como três vezes a dívida externa. E no caso da Coréia do Sul, as reservas de US$ 202 bilhões (fevereiro de 2005) representam quase 100% da dívida externa.