Título: Atração verde-amarela
Autor: Angelo Pavini
Fonte: Valor Econômico, 29/03/2005, Finanças, p. D1

Apesar da instabilidade que atinge os mercados emergentes, aumenta o interesse de grandes gestores internacionais de fundos de fundos por carteiras de "hedge funds" brasileiros. A expectativa de analistas é de que essa procura sobreviva às turbulências externas recentes que derrubaram o Índice Bovespa e puxaram o dólar. Um dos principais atrativos das carteiras brasileiras é o potencial de ganho superior ao dos países desenvolvidos. Com os juros internacionais nos menores níveis da história, vários gestores de fundos globais procuram alternativas que rendam mais, explica Gustavo Vieira de Castro, superintendente de estratégias de Investimento do Itaú Private Bank. "No final do ano passado, quando estivemos em Londres visitando gestores, notamos que os 'funds of funds' estão com interesse especial por mercados emergentes", explica ele. Para esses fundos as alternativas para aumentar os ganhos são papéis de empresas de maior risco de países ricos ou mercados emergentes, onde há oportunidades. Uma das maiores administradoras de fundos de fundos, a suíça EIM Group, veio recentemente ao Brasil visitar gestores brasileiros para conhecer o trabalho deles e estudar opções de investimentos. A instituição administra cerca de US$ 9 bilhões em fundos de fundos e está começando a analisar os mercados emergentes. A empresa fechou um acordo com o Itaú Private Bank para que o banco brasileiro preste serviços de seleção e acompanhamento de fundos hedge locais que servirão de alternativa para fundos de fundos da EIM. Será criada uma carteira que aplicará parte dos recursos em mercados emergentes. "A maior parte continuará em países desenvolvidos, mas uma fatia, de até 20%, poderá ir para fundos no exterior (offshore) administrados por brasileiros", afirma Castro. A equipe de análise de investimentos do Itaú Private no Brasil indicará as opções de gestores e a EIM escolherá os que achar melhor. O fundo administrado pela EIM será distribuído pelo Itaú Luxemburgo, subsidiária do banco na Europa. O interesse pelos emergentes se explica pela melhora desses países. Muitos passaram a trabalhar com câmbio flutuante, reduzindo o risco de grandes desvalorizações de moedas e de perdas para o investidor estrangeiro. Castro reconhece que a turbulência provocada pela expectativa de alta mais forte nos juros americanos afeta os mercados emergentes pela maior aversão ao risco. Mas ele lembra que esse impacto deve ser menor em carteiras globais que procuram fundos hedge, que por sua característica conseguem evitar as perdas com turbulências de mercado. "E aqui eles encontram gente de qualidade, cinco ou seis gestores independentes que trabalham há 15, 20 anos no mercado, com estruturas de gestão muito bem montadas", afirma Castro. A EIM começou a investir em mercados emergentes há dois anos, por meio de grandes fundos globais com sede em Londres e Nova York, diz Florence Duculot, analista de investimentos da gestora suíça. No ano passado, estiveram mais envolvidos em Ásia e ficaram muito animados com as oportunidades e com a chance de trabalhar outros mercados. Há dois meses, Florence veio ao Brasil visitar alguns gestores independentes e ficou impressionada. "Eles têm sofisticação, ótimos profissionais, muitos treinados em bancos internacionais, e que aplicam técnicas modernas de gestão de hedge funds", afirma. Ela destaca também a qualidade da gestão de risco dos hedge funds brasileiros. Florence reconhece que há uma redução dos investimentos em emergentes pela instabilidade internacional, mas lembra que há muitas oportunidades nesses mercados. "E a maioria dos gestores de 'hedge funds' brasileiros são ágeis e aproveitam a volatilidade." O fundo em parceria com o Itaú deve ser lançado na primeira semana de maio. Será um fundo de fundos agressivo, com meta de 10% ao ano de rentabilidade em dólar. Ele deverá começar com US$ 30 milhões, podendo chegar em um ano a US$ 70 milhões. Marcos Duarte, sócio da Polo Capital, confirma o interesse dos fundos estrangeiros. "Recebemos de dez a 15 visitas ou consultas de fundos internacionais nos últimos seis meses", diz. Ele espera que a demanda por carteiras brasileiras continue, uma vez que o setor de fundos hedge ainda é novidade na maioria dos demais países da América Latina. "E esses aplicadores são de longo prazo", diz ele, lembrando que os fundos offshore só permitem resgates trimestrais. A procura dos fundos hedge brasileiros é por carteiras no exterior devido ao imposto menor, explica Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Asset Management. "Há interesse, mas por produto bastante específico, para fundos Brasil ou América Latina offshore", diz. A maior procura é de fundos americanos, por serem em maior número no mercado. Ele lembra que em um congresso de fundos de fundos internacional, cerca de 20 gestores o procuraram para conhecer a gestora. Os fundos de fundos tem preocupação grande com diversificação de risco e classe de ativos, países emergentes, G-7, e como Brasil está em situação favorável, com economia crescendo e boa rentabilidade, há procura maior. O fundo offshore recém-lançado da Mauá estreou em 1º de março, com US$ 30 milhões e aguarda abril para retomar captações. Figueiredo diz não estar preocupado com os efeitos dos juros americanos. Para ele, não há crise, o que está acontecendo é um ajuste natural de preços à política monetária americana mais apertada. "Os preços dos ativos de países emergentes estavam muito baixos". Mas não vai haver uma redução dramática da liquidez e o mundo vai continuar crescendo, diz. Luis Stuhlberger, sócio da Hedging Griffo, diz que vem sendo procurado por bancos querendo distribuir fundos da empresa na América Latina. "Existe muita iniciativa, muita conversa, mas o resultado ainda é pequeno", observa. Segundo ele, os interesses são muito diversos, desde private banks até bancos do Paraguai, Chile, Argentina, investidores individuais e até institucionais. "O Brasil entrou no rede de alguns private banks mundiais, diz. Neste ano, o fundo offshore Global Market da gestora vem recebendo uma média de US$ 5 milhões em depósitos por mês.