Título: Poupança interna eleva investimento para 19,7% do PIB
Autor: Sergio Lamucci e Denise Neumann
Fonte: Valor Econômico, 01/04/2005, Brasil, p. A3

Depois de dois anos sucessivos de declínio, a taxa de investimento da economia brasileira, representada pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), atingiu no ano passado, 19,6% do Produto Interno Bruto (PIB), o melhor resultado desde 1998, quando ela havia sido de 19,7%. No ano passado, os investimentos haviam ficado em apenas 17,8% do PIB. Mais importante foi que em 2004, ao contrário de 1998, os investimentos se apoiaram inteiramente em poupança interna. A taxa de poupança bruta, que resulta da renda disponível menos o consumo, alcançou no ano passado 23,2%, a maior desde o início da atual série histórica das contas nacionais (1991). Em 1998 a taxa de poupança bruta foi de apenas 16,8%, o que significa dizer que parte dos investimentos foi bancada com poupança externa. "A taxa de poupança é muito importante porque mostra que o Brasil tem sido capaz de gerar domesticamente a poupança necessária aos investimentos", disse Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Levy enfatizou que "a taxa de investimento ainda não é a ideal, mas reflete um esforço de recuperação". Em documento de análise dos números do PIB em valores divulgados ontem pelo IBGE, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) também comemorou o desempenho da taxa de investimento, mas enfatizou sua insuficiência. "Primeiro, ele (o nível de investimento) representa tão-somente o retorno aos níveis de investimento dos anos de 2000 e 2001. Em segundo lugar, sublinhe-se que se desejarmos um crescimento maior e mais prolongado da economia, o país deverá ampliar nos próximos anos o investimento para a casa dos 25% do PIB", diz o texto O Iedi acrescenta que nos países chamados de emergentes com taxas de crescimento maiores e mais sustentadas que a brasileira, a taxa de investimento passa de 25% do PIB, "chegando a superar 30%". Para a entidade, "se a política de juros não atrapalhar muito o andamento da economia", é possível que neste ano a taxa de investimento alcance 22% do PIB. No ano passado os investimentos na economia brasileira cresceram 10,9%, sendo superados apenas pelas exportações de bens e serviços, que cresceram 18%. "O investimento maior vem do aumento da confiança do empresário, enquanto o dado da poupança mostra que o país é capaz de investir sem provocar desequilíbrios externos", ressaltou Levy, do Ipea. De acordo com a análise do Departamento Econômico do Bradesco, a expansão da taxa de investimento associada ao crescimento do setor externo revela que "o ajuste externo em curso nos últimos anos vem possibilitando que a economia continue crescendo daqui para a frente de forma mais sustentável que nos anos passados". Os analistas do Bradesco destacaram também o crescimento da participação dos setores produtivos (agropecuária e indústria) na composição do PIB ocorrida nos últimos anos, em detrimento do setor de serviços. A participação da agropecuária passou de 8% do PIB em 2000 para 10,1% no ano passado, enquanto a da indústria, que vem crescendo continuamente deste 1999, passou de 34,6% em 1998 para 38,9% em 2004. Já a participação do setor de serviços caiu de 62,3% em 1998 para 55,7% no ano passado. Os números não fecham em 100% porque há um percentual de 4,6% referente aos custos de intermediação financeira que o IBGE abate da soma final dos setores por não ter meios de saber como imputar os custos dessa intermediação a cada setor. Para os técnicos do Bradesco, o avanço das fatias da agropecuária e da indústria sobre os serviços reflete o ajuste externo provocado pelo fim da sobrevalorização do real que prevaleceu no período de 1995 a 1998. "Se de 1995 a 1998 a valorização do real aumentou a renda em benefício de setores não comercializáveis, como o de serviços, a partir de 1999 a depreciação do real fez exatamente o inverso, em benefício de setores produtores de bens comercializáveis exportáveis, como a indústria e a agropecuária", diz o texto.