Título: Garotinho diz que Rio não precisa ser desmembrado para se livrar dele
Autor: Heloisa Magalhães
Fonte: Valor Econômico, 01/04/2005, Política, p. A5

Anthony Garotinho foi ontem taxativo com relação a proposta de desfusão, de separação do Estado do Rio de Janeiro da capital, a antiga Guanabara: "Isso é uma bobagem sem tamanho", "perda de tempo", "coisa de quem não tem o que fazer e está fora da realidade". E foi além: "Se é um projeto eleitoral, para o casal Garotinho (a governador do Estado, Rosinha Matheus é mulher de Garotinho) é ilusão. Nós não vamos durar a vida inteira e um projeto desse tem que ter visão de longo prazo", disse. E brincou: "Se é para ser separatista o melhor mesmo é tornar o Rio de Janeiro um país. Seriamos o nono país na lista da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo)", disse. As atividades da Petrobras respondem por 31% da economia fluminense, mas vale lembrar que beneficia fundamentalmente a região fora da Capital. Mas Garotinho fez questão de frisar: "Mas estou brincando eu não sou separatista não". O ex-governador e atual secretário de Governo e Coordenação do estado, que usualmente fala como se ainda fosse o titular e não a mulher, fez palestra ontem na Câmara Americana, fechando seminário "A Força do Rio de Janeiro" um dos eventos que vêm sendo realizados e que polarizam opiniões em torno da desfusão. Garotinho disse que pediu ao seu aliado, o senador Sergio Cabral (PMDB) para trabalhar no sentido de adiar a votação no Senado do projeto plebiscito para a população fluminense se posicionar em torno da desfusão. O tema entraria em pauta ontem mas Cabral teve sucesso e ficou para 13 de abril. Garotinho quer também separar o plebiscito da desfusão de outro plebiscito em torno do desarmamento. "Se for junto todo mundo vai votar. Se a desfusão ficar em outro dia, nem 10% da população comparece. Eu aposto", disse. O grupo que defende a separação se reúne no movimento batizado de Autonomia Carioca e lançou a proposta em maio de 2004. Mas as adesões estão crescendo. Entre os líderes estão a vereadora (PV) e socióloga Aspásia Camargo, o deputado Federal (sem partido), Fernando Gabeira, e o secretário municipal de urbanismo, Alfredo Sirkis. Há também empresários como Israel Klabin, da área de papel, e executivos como a ex-presidente da CSN e atualmente consultora, Maria Silvia Bastos Marques e o economista Paulo Rabello de Castro. Ele defende proposta de tornar a cidade do Rio de Janeiro um centro financeiro internacional para, como o economista avalia, "energizar" a cidade. Quando o tema é desfusão, o prefeito Cesar Maia fecha com o ex-governador. As relações dos dois não são boas no âmbito da política regional mas ambos concordam que a desfusão não traria benefícios ao Rio. Se a desfusão, como diz Garotinho, teria como objetivo livrar a cidade de seu grupo político, resta o problema da Zona Oeste, a região mais pobre da cidade que, nas últimas eleições estaduais, levou Rosinha Matheus à vitória na capital fluminense. Garotinho diz que ambos os lados perdem com a separação. Apresentou ontem dados do Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro, Fundação Cide, órgão do governo do estado, mostrando que a cidade do Rio de Janeiro responde hoje por 6% em participação no PIB nacional e o antigo estado do Rio, fica com 8%, em boa parte puxado pela indústria de petróleo, um total de 14,18%. Quem é maior produtor é que recebe os royalties do petróleo. E a maior parte da extração está concentrada na Bacia de Campos, na região fora da Capital. Mas em compensação, a antiga Guanabara ganharia podendo cobrar ao mesmo tempo, Imposto sobre Serviços (municipal) e Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (estadual).