Título: Fabricantes retomam exportação de telefones
Autor: Talita Moreira
Fonte: Valor Econômico, 01/04/2005, Empresas &, p. B1

As exportações de telefones celulares dispararam neste início de ano, depois de terem encolhido em 2004 diante da explosão na demanda doméstica. Em janeiro e fevereiro, as vendas externas de aparelhos atingiram US$ 244,7 milhões - o triplo do valor comercializado no mesmo período do ano passado. As informações são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Os principais fabricantes instalados no Brasil registraram crescimento expressivo nas exportações no bimestre. Com o arrefecimento do mercado local, uma parcela maior da produção pôde ser direcionada a outros países. As exportações da finlandesa Nokia somaram US$ 96,7 milhões em janeiro e fevereiro. O valor representa aumento de 266,7% em relação a igual período de 2004. O faturamento em dois meses equivale a um terço do que a empresa exportou em todo o ano passado. A americana Motorola elevou as exportações de US$ 57,5 milhões para US$ 107,9 milhões na mesma base de comparação. O montante inclui outros produtos, mas a grande maioria refere-se à venda de telefones móveis. Na Siemens, que produz telefones em Manaus (AM), as vendas ao exterior subiram de US$ 825,6 mil para US$ 29,6 milhões. Quase 90% desse total são celulares, afirma o diretor de telecomunicações, Humberto Cagno. Executivos do setor avaliam que as exportações deverão voltar a um patamar próximo ao de 2003 - cerca de US$ 1 bilhão. No ano passado, as vendas caíram a US$ 722,2 milhões. A leve desaceleração do mercado interno é o principal motivo para a retomada. As operadoras de telefonia móvel do país conquistaram 19,2 milhões de novos clientes em 2004. A base cresceu 41,5% em relação ao ano anterior. Em 2005, a indústria projeta crescimento em torno de 30%. "No ano passado, as exportações foram reduzidas pela ebulição do mercado local. Mas o Brasil não poderia ficar infinitamente naqueles números", diz o presidente da Motorola, Luís Cornetta. O ritmo está mais lento em 2005. No primeiro bimestre, as operadoras adicionaram 1,8 milhões de clientes à sua base. No mesmo período do ano passado, foram 4,9 milhões. Outro fator que permitiu o aumento das exportações foram os investimentos feitos pelas empresas para ampliar a capacidade produtiva - de modo a conseguir atender os dois mercados. Como o setor é grande importador de componentes, vender no exterior é uma necessidade para reduzir o déficit comercial. Desde 2003, a Nokia fez duas ampliações em sua fábrica de Manaus. Somente no ano passado, investiu US$ 120 milhões. "O objetivo é que as exportações representem entre 40% e 60% do faturamento", afirma o presidente da empresa, Fernando Terni. O executivo diz que as vendas externas da Nokia devem voltar ao nível de 2003, quando atingiram US$ 600 milhões. No ano passado, ficaram em US$ 270 milhões - 18% da receita de US$ 1,5 bilhão obtida pela subsidiária. Siemens e Motorola também aumentaram suas fábricas. Segundo Cornetta, se o mercado interno superar as expectativas a empresa poderá investir mais. Na Siemens, a estratégia é vender a outros países 30% da produção, afirma Cagno. Mesmo os fabricantes coreanos, que até agora apostaram todas as fichas no mercado interno, começam a se voltar para o exterior. A LG está duplicando a capacidade de produção de celulares e planeja exportar 20% do total a partir de 2005. A Samsung desembolsou US$ 100 milhões no ano passado para erguer uma nova fábrica e pretende exportar 30% do volume. As empresas não quiseram dar entrevistas. Mercosul e EUA são os principais destinos dos telefones brasileiros, mas a indústria começa a expandir os horizontes. "Começamos a vender também para a Europa", diz Terni, da Nokia. E, apesar do aumento no bolo total, o valor unitário dos telefones exportados está em queda. O preço médio caiu quase à metade desde 2000, para US$ 74 neste início de ano. A tecnologia ficou mais barata e os principais importadores são países emergentes, que consomem modelos simples. A diferença deve ser compensada por um volume maior.