Título: Selic eleva o custo dos empréstimos, mas não reduz o ritmo de concessões
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2005, Finanças, p. C2

Os constantes aumentos da taxa básica de juros, a Selic, vêm se refletindo em alta do custo dos empréstimos bancários, tanto para pessoas físicas quanto jurídicas, há pelo menos dois meses. Mas ainda não foram suficientes para tirar o ímpeto do mercado de crédito, cujo saldo continua em expansão, de acordo com dados levantados pela Tendências Consultoria (veja gráficos). Adriano Pitoli, analista de crédito da consultoria acredita, no entanto, que o ritmo de crescimento dos empréstimos no país deve desacelerar nos próximos meses em função do custo, uma vez que a expectativa é de manutenção da alta dos juros. "Enxergamos pouco espaço em 2005 para aumento do crédito acima de 10% reais", disse Pitoli ontem, durante palestra na sede da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimentos (Acrefi). Em suas estimativas, a Tendências usa os números já divulgados pelo Banco Central em seu relatório mensal de crédito, aplicando a deflação e dessazonalização. A partir desse critério, Pitoli projeta um crescimento de 11% do saldo de empréstimos para pessoas jurídicas em 2005 e de 8,5% no crédito a pessoas físicas, em comparação a 18% e 19,5% de expansão em 2004, respectivamente. Os spreads devem subir agora, mas voltam a cair no final do ano, calcula a consultoria. Segundo o economista, como a inflação tem mostrado "maior resistência que o esperado", o Banco Central deve continuar utilizando o instrumento mais clássico de política monetária (a alta dos juros) para segurar os preços. "A necessidade de controle da inflação é a variável mais importante para a análise sobre a expansão do crédito", disse Pitoli. O vetor oposto aos juros inclui "outros indutores" de oferta e demanda como os indicadores mais favoráveis de emprego, renda e exportações por um lado, e a estratégia de expansão das carteiras de empréstimos dos bancos, por outro. Pitoli lembra que a própria estabilidade da economia induz à maior oferta e demanda por empréstimos, com tomadores mais confiantes na retomada do mercado de trabalho e os bancos estimulados pela queda da inadimplência. "Os indutores de demanda são menos sensíveis à política monetária", diz Pitoli, daí porque o volume de concessões permanece em alta, mesmo após seis meses consecutivos de elevação da Selic. Também contam como indutores reformas microeconômicas promovidas pelo governo como a regulamentação do crédito consignado (com desconto em folha) para empresas públicas, privadas e aposentados do INSS, a consolidação do Sistema de Informações de Crédito (birô positivo) do Banco Central para empresas e a aprovação da nova Lei de Falências. Ainda assim, o economista da Tendências vê uma perspectiva de retração do ritmo de concessão de empréstimos, a começar nas linhas para empresas e, posteriormente, para as pessoas físicas. "As últimas alterações da Selic certamente promoverão uma maior sensibilidade nas taxas do tomar final na pessoa jurídica." Isso acontece porque os spreads praticados pelos bancos com as empresas são menores, então o custo final é mais afetado pelo custo de captação. "Os spreads para pessoas físicas são maiores, portanto oferecem maior espaço para acomodar pressões de custo (dos bancos com a captação)", explica Pitoli.