Título: Segurança hídrica é principal defesa para obra de R$ 4,5 bilhões
Autor: Chico Santos Do Marizópolis
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2005, Especial, p. A6/7
Entre os argumentos que defendem a transposição do rio São Francisco, um se destaca: o medo de que falte água para alimentação humana acaba, hoje em dia, contribuindo para seu próprio desperdício. O coordenador geral do projeto, Pedro Brito, disse ao Valor que, ao perenizar cerca de mil quilômetros de rios temporários a transposição das águas do São Francisco vai levar os Estados a aprofundar a interligação das suas bacias hidrográficas. Diante da segurança de que disporão de água o tempo todo, a população e os municípios vão utilizar sem medo a água que já está armazenada em reservatórios e açudes. O medo da seca, enfatiza ele, acaba impedindo o semi-árido de usar a água disponível nos açudes e faz com que 80% dessa água seja perdida ou por evaporação ou por vertimento. O vertimento ocorre quando chove forte nas cabeceiras dos rios e os açudes já estão cheios porque a água não foi utilizada. Por isso, a expressão "segurança hídrica" é a mais utilizada pelo governo para defender a obra. No discurso que fez em cadeia nacional de rádio e televisão na noite do dia 13 de março para defender o projeto de transposição de águas do rio São Francisco para o Nordeste Setentrional, o ministro da Integração Nacional. Ciro Gomes, afirmou que o projeto "fará uma transformação sem precedentes no sertão nordestino, tirando a região da pobreza definitivamente". Segundo o ministro, o projeto vai acabar com o drama da falta de água tanto para a região semi-árida como para grandes cidades, como Fortaleza, no Ceará, Caruaru, em Pernambuco, e Campina Grande, na Paraíba. De acordo com Ciro Gomes, o custo de R$ 4,5 bilhões da obra é o mesmo que a União gasta com ações emergenciais em duas secas. Segundo a agrônoma Elianeiva Odísio, coordenadora de Cadastramento Fundiário do projeto do governo, a transposição "é um projeto estruturante" que não vai simplesmente levar água para o semi-árido. Segundo ela, as 730 famílias que serão removidas das áreas por onde vão passar os canais, como a comunidade de Quixabinha, município de Mauriti, no Ceará, serão reassentadas em projetos organizados, com disponibilidade de água, inclusive para irrigação. Ela explicou, também, que os cerca de 400 pontos de captação de água que serão construídos ao longo dos dois canais não serão simples chafarizes para abastecer populações difusas, mas que disponibilizarão a água que for necessária para abastecer as comunidades vizinhas a cada um desses pontos. De acordo com Brito, que além de coordenador do projeto de transposição é chefe-de-gabinete do Ministério da Integração Nacional, o Ceará é o Estado mais avançado na segurança hídrica tendo praticamente todas as suas bacias interligadas e dispondo também de um sistema de gestão das águas que serve de modelo para os demais. O Rio Grande do Norte, segundo ele, já dispõe da infra-estrutura, embora ainda precise implantar seu modelo. A Paraíba e Pernambuco, de acordo com Brito, têm parte da infra-estrutura, mas estão mais atrasados e vão ter que se preparar melhor para gerenciar a segurança hídrica de sua população. Brito também está convicto de que os ciclos de cheias do São Francisco e dos rios temporários do semi-árido são complementares, fazendo com que a vazão máxima de 127 m³/s dos canais possa ser utilizada justamente quando os açudes sertanejos estiverem mais carentes de água. O atual verão, ou "inverno" para o sertanejo (meses de dezembro a maio, dependendo do Estado nordestino), seria um bom exemplo do que o governo espera que ocorra mais regularmente: a barragem de Sobradinho verteu água durante todo o mês de março, graças às águas das chuvas na região Sudeste carreadas para o leito do São Francisco. Essa abundância gerou uma vazão média superior a 4.000 m³/s no baixo São Francisco (de onde vão sair os canais), quando, ao mesmo tempo, os açudes sertanejos estavam com seus espelhos d'água baixando em decorrência da estiagem prolongada na região. (CS)