Título: Grandes cidades do Nordeste também serão beneficiadas
Autor: Chico Santos Do Marizópolis
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2005, Especial, p. A6/7

A polêmica transposição de águas do Rio São Francisco para o semi-árido setentrional, beneficiando os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, é um projeto avaliado em R$ 4,5 bilhões na primeira fase. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva incluiu o projeto entre as prioridades do seu governo e anunciou que as obras começarão em setembro, o que representa um atraso de cinco meses sobre o cronograma original, que previa início em abril. A transposição ainda depende de licença ambiental do Ministério do Meio Ambiente. No Orçamento da União estão previstos R$ 624 milhões para a obra. O projeto prevê a retirada mínima de 26 mil metros cúbicos por segundo (m³/s) de água do São Francisco por intermédio de dois canais. O maior deles, chamado de Eixo Norte, terá 402 quilômetros de extensão, saindo do município de Cabrobó (PE) e subindo até as proximidades de Cajazeiras (PB), vencendo um aclive de 160 metros, onde se bifurca para, por intermédio de açudes, garantir a perenização dos rios Jaguaribe (CE), Piranhas (PB/RN) e Apodi (RN). A perna do canal que levará água para o açude Entremontes, no Oeste de Pernambuco, ficará para uma segunda etapa. O outro canal, denominado Eixo Leste, com 220 quilômetros de extensão, terá de vencer desníveis de 300 metros na Paraíba e de 500 metros em Pernambuco, por meio de adutoras. O canal vai sair da barragem de Itaparica (PE), abaixo de Cabrobó, e levar água para perenizar o rio Paraíba, em Pernambuco e na Paraíba, devendo, segundo o ministro da Integração, Ciro Gomes, dar segurança hídrica para os municípios de Caruaru (PE) e Campina Grande (PB). As águas dos canais deverão também perenizar os rios Moxotó, Terra Nova e Brígida, afluentes do São Francisco. Está prevista a construção de 400 pontos de captação de água ao longo dos canais para abastecer populações vizinhas. O projeto prevê que nos períodos em que a barragem de Sobradinho, reguladora da vazão do São Francisco , estiver vertendo, a captação dos canais alcance 127 m³/s, fazendo com que a média anual da captação chegue a 63,5 m³/s. Na vazão média, a água teria a seguinte distribuição: 41,1 m³/s para o Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, sendo 33,8 m³/s pelo Eixo Norte e 7,3 m³/s pelo Eixo Leste. Pernambuco receberia 20,2 m³/s, mas apenas 5,2 m³/s seriam efetivamente transpostos, com os outros 15 m³/s destinados aos três rios da bacia do São Francisco. No Ceará as águas chegarão ao açude Castanhão, que pode armazenar até 6,7 bilhões de metros cúbicos, seguindo para a região de Fortaleza, incluindo o distrito industrial de Pecém, por meio do Canal da Integração, de 255 quilômetros, cujos primeiros 56 quilômetros já estão prontos. Embora a outorga da água pela Agência Nacional de Águas (ANA) tenha sido feita com as finalidades específicas de "consumo humano e dessedentação animal", o que se espera na região é que ela torne viável projetos de desenvolvimento, seja de agricultura ou de plantas industriais. O porto de Pecém, onde acaba o Canal da Integração, é o local previsto para grandes projetos industriais, incluindo a Usina Siderúrgica do Ceará (USC).(CS)