Título: Principal prefeito do PT, Pimentel estreita relação com Aécio
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2005, Especial, p. A14

Fortalecido dentro do PT depois de reeleger-se em primeiro turno e garantir o comando da maior cidade governada hoje pelo partido, o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, ficou mais à vontade para impôr seu próprio estilo no novo mandato. Reassumiu cobrando maior espaço político para os não-paulistas - no PT e no cenário nacional - e propondo medidas de impacto, como a autorização para que prefeituras saneadas, como a sua, possam emitir títulos públicos. Apesar de fazer parte da administração de Belo Horizonte há mais de 12 anos, é a primeira vez que o economista tem a seu favor o peso do voto de mais de 70% dos belorizontinos. Na primeiro e na segundo gestão, foi secretário da Fazenda. Na terceiro, assumiu como vice de Célio de Castro (PT) e terminou como prefeito, substituindo o titular que foi afastado por problemas de saúde. O atual é o quarto mandato.

No episódio da candidatura avulsa à presidência da Câmara do conterrâneo Virgílio Guimarães, não abandonou a cúpula do partido. Envolveu-se pessoalmente, tentando demover o deputado mineiro da decisão. Mas, depois da derrota, demonstrou-se contrário a punições extremadas a Virgílio. O prefeito deixou claro, em diversas oportunidades, o quanto são boas suas relações com o governador do Estado, Aécio Neves (PSDB), apesar de estarem os dois em partidos adversários. Além do discurso político afinado na defesa de mais espaço para os mineiros, o governador e o prefeito explicitaram a sintonia em inúmeras parcerias para ações de governo na capital. Na semana passada, Aécio Neves buscou o apoio do prefeito petista até para a defesa dos seus interesses na reforma tributária, em especial as mudanças no sistema das compensações da isenção de ICMS nas exportações. "O prefeito Fernando Pimentel tem um papel muito importante aí", afirmou o governador, contando com a ajuda do petista nas articulações com a bancada mineira no Congresso e com o governo federal. No que diz respeito à gestão municipal, Pimentel conseguiu aprovar, embora debaixo de muita polêmica, sua reforma administrativa. O prefeito teve dificuldade para comprovar em números que o novo modelo significa realmente redução de cargos e custos. Somando todas as secretarias de primeiro e segundo escalões do formato anterior, eram 55 pastas. Com a reforma, o total é de 54, apenas uma a menos. Mas ele argumenta que o novo modelo garante maior agilidade para a máquina municipal e facilita a implementação dos projetos que tem para Belo Horizonte. Na prática, a reforma também foi uma espécie de resposta às denúncias dos adversários políticos de que a grandiosa estrutura administrativa da capital mineira servia de cabide de empregos para militantes do PT. A saúde em BH é que foi a principal dor-de-cabeça para o prefeito neste início de mandato. O petista teve de enfrentar a indignação da população - por causa de problemas no hospital municipal Odilon Behres e na maternidade Sofia Feldman - e também da direção dos hospitais, numa queda-de-braço envolvendo a destinação do lixo hospitalar. Referência para a população de baixa renda, o Odilon Behres deverá ficar desativado por pelo menos seis meses para obras. Não foi possível agrupar todo o atendimento num único endereço provisório. E os usuários queixam-se das dificuldades de atendimento. O prefeito argumenta, na defesa da administração, que o objetivo é justamente melhorar o atendimento no hospital e que os transtornos são inevitáveis durante as obras. Em reforma e compra de novos equipamentos, deverão ser gastos R$ 10,15 milhões. Mas as explicações não conseguem aplacar os ânimos dos usuários prejudicados, cerca de 500 por dia. Com a direção dos hospitais, a briga é para ver quem ficará responsável pela destinação do lixo. Uma legislação federal transferiu para os próprios hospitais geradores do lixo a atribuição. Mas graças a uma liminar, os estabelecimentos sediados em BH conseguiram devolver a incumbência à prefeitura até 31 de março deste ano. Vencido o prazo, a secretaria municipal de Meio Ambiente não aceita que o lixo hospitalar seja jogado sem tratamento nos aterros sanitários. Os hospitais, por sua vez, argumentam que a obrigação de tratar o rejeito é da prefeitura. A transferência de 120 vôos interestaduais do aeroporto da Pampulha, na capital, para o Aeroporto Internacional Tancredo Neves, no município de Confins, foi outra polêmica neste início de ano que acabou respingando na administração municipal, apesar de tratar-se de uma resolução da Infraero em parceria com o Estado Passageiros cobram soluções de tráfego na saída da cidade para melhorar o acesso ao aeroporto de Confins, que fica distante mais de 40 quilômetros. A transferência dos vôos no dia 13 de março tornou mais evidente a urgência da duplicação da Avenida Antônio Carlos, uma das principais vias de acesso a Confins. Os custos da obra, estimados em R$ 120 milhões, serão divididos entre os governos federal, estadual e municipal. A União já liberou R$ 53 milhões e o processo de desapropriação já foi iniciado. Mas, na percepção da população, o dinheiro está chegando muito atrasado. Taxistas cobram da BHTrans, empresa municipal responsável pela gestão do tráfego e do transporte público, uma solução que não os prejudique. Para poder trabalhar em Confins, os taxistas de BH tiveram de abrir mão da taxa de retorno, o que reduziu o valor da corrida de R$ 100 para R$ 60,00. A categoria também reclama que ficaram restritos a uma área longe das salas de desembarque, o que os leva a perder passageiros para os taxistas de outros municípios. E moradores reclamam da instalação de um terminal de ônibus exclusivo para Confins, no centro da cidade. Moradores da área já preparam um abaixo-assinado para ser entregue à direção da BHTrans, solicitando a transferência do terminal para outro ponto da cidade. Na avaliação dos assessores e secretários de Pimentel, no entanto, os problemas enfrentados nos últimos cem dias são questões pontuais de fácil solução. A opinião unânime na administração é de que o prefeito tem mais o que comemorar do que episódios a lamentar neste balanço dos cem primeiros dias. Para começar, lembram assessores, Fernando Pimentel conseguiu passar pelas chuvas de verão sem as tragédias que marcaram a cidade em anos passados. Desta vez, não houve registro de nenhuma morte em decorrência de desmoronamentos nos morros da capital. Um trabalho mais rigoroso de vistoria nas áreas de risco e de transferência dos moradores de imóveis condenados evitou que se repetisse episódios com o de 2004, quando uma família inteira morreu soterrada num barracão que havia sido vistoria por técnicos da prefeitura. Pimentel também conseguiu, neste início de mandato, garantir recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a urbanização de vilas e favelas da cidade, uma das suas principais bandeiras na campanha da reeleição.