Título: Vantagem é comercial e tributária
Autor: Vanessa Adachi e Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2005, Empresas &, p. B4

Os empresários do setor têxtil enumeram três fatores que favorecem hoje a abertura de novas fábricas na América Central ou nos países andinos, em detrimento do Brasil. "Esses países têm perspectiva de acesso privilegiado ao mercado americano, logística de transporte e portos mais eficientes e estrutura tributária melhor", diz Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas. Os produtos confeccionados no Brasil pagam imposto de importação de 17% nos Estados Unidos. Quando for aprovada pelo Congresso dos EUA a criação da área de livre comércio com o Caribe (Cafta), as peças confeccionadas nesses países terão isenção na entrada no mercado americano, quando o tecido for produzido no próprio país. Hoje, essa vantagem existe apenas quando a origem do tecido é americana. "Apesar das nossas desvantagens de logística e tributárias, se não fosse esse imposto de importação, os produtos brasileiros seriam competitivos, porque temos eficiência e escala na produção dos tecidos", diz Ricardo Steinbruch, da Vicunha. Por seu lado, os países do Caribe e da região andina têm grande interesse de atrair as fábricas brasileiras de tecidos para abastecer de forma competitiva as confecções locais. Uma simulação feita a pedido do Valor pela Coteminas e pela Santista mostra que, no caso de um determinado modelo de calça, o custo do produto colocado nos Estados Unidos é de US$ 11,70 por peça e no caso brasileiro de US$ 9,20 para os países da América Central, considerando-se o Cafta. Os empresários destacam que a falta de competitividade do produto confeccionado no país já criou um abismo em relação às confecções de países como Colômbia e Guatemala. A Staroup, a maior confecção brasileira produz 350 mil peças por mês, enquanto a guatemalteca Koramsa fabrica o dobro disso a cada semana. As exportações brasileiras de artigos confeccionados somaram, em 2004, US$ 718 milhões, cerca de 30% do total das vendas externas de têxteis. E a Staroup prevê que esses volumes possam diminuir ainda mais. Cerca de dois terços da produção da empresa são exportados. Mas, de acordo com Álvaro Pontes, presidente da companhia, neste ano a fabricante pode perder seu maior comprador, uma marca internacional de jeans. "O Brasil não fez acordos comerciais e além disso está com um câmbio não favorável", afirma. Ele explica que seus contratos com essa grife existem há cinco anos, mas que neste ano o cliente vem dando alguns sinais de que pode não renová-lo no segundo semestre. "Hoje temos muita dificuldade de fechar contratos." (CM e VA)