Título: Brasil volta a atrair interesses
Autor: Cristiane Perini Lucchesi e Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 04/04/2005, Finanças, p. C1

Todos enxugaram suas estruturas locais e alguns deles quase deixaram o país nos anos de vacas magras, entre 2001 e 2002. Mas, agora, os bancos de investimento internacionais estão de volta à ativa e com planos de crescimento agressivos. Merrill Lynch, Morgan Stanley, Goldman Sachs, UBS, CSFB, ING, Deutsche Bank, WestLB e Standard Bank são instituições que têm renovado seu interesse pelo Brasil. A razão: o crescimento e sofisticação dos mercados de ações e dívida e também de fusões e aquisições por um período ininterrupto de mais dois anos. "Faz tempo que não vejo um nível de atividade tão grande como agora", afirma José Olympio, responsável pelo banco de investimentos do Credit Suisse First Boston (CSFB) no país. "Os bancos de investimento tendem a responder aos mercados nos quais atuam. São tão voláteis quanto esses mercados", comenta Maurice Marchesini, o primeiro brasileiro a assumir a função de chairman e chefe do banco de investimento da Merrill Lynch para a América Latina. A Merrill Lynch acaba de mudar sua sede no país da Avenida Paulista para um escritório no Faria Lima Financial Center, com tecnologia e espaço que permitem uma expansão de até 15% no seu pessoal, informa Robert Kozmann, um dos integrantes do comitê que dirige o banco no país. Hoje o banco tem cerca de 180 funcionários. "Nossa expansão será bem seletiva, preenchendo espaços de forma responsável", diz Richard Rainer, outro integrantes do comitê executivo que dirige o banco. O movimento mais agressivo até agora partiu do americano Goldman Sachs, que tem apenas 30 funcionários, mas está em negociações para se associar ao brasileiro Pactual, o que deverá criar uma estrutura invejável de banco de investimento. Se a concorrência já começava a se mexer, o passo do Goldman parece ter acelerado as coisas. Não só os estrangeiros, mas também a área de banco de investimento das instituições locais já sentiram que a disputa por mandatos de clientes vai crescer. Para dar novo gás a suas operações no Brasil, no fim do ano o Morgan Stanley trouxe Rodrigo Lowndes, que atuava em Nova York, para ser diretor-gerente do banco. "Um dos meus objetivos é incentivar uma sinergia maior entre as áreas no Brasil", afirmou. Ainda em 2004 o Morgan já havia tirado dois executivos da concorrência: Ricardo Behar, ex-Citigroup, e Alexandre Borges, ex-Goldman Sachs. Alberto Kiraly, diretor-executivo responsável pelo Morgan Stanley no Brasil durante os últimos cinco anos, está de saída. "Fui chamado pela direção em Nova York a ter uma atuação mais sênior e a deixar o dia-a-dia do banco. Achei que isso não era interessante no meu atual momento de carreira", diz. O Morgan Stanley tem 70 funcionários no país. O Credit Suisse First Boston também parece ter despertado nos últimos meses, passando a incomodar a concorrência, principalmente na estruturação de ofertas de ações. À frente da retomada está o executivo José Olympio, que reassumiu a área de banco de investimentos do CSFB no país em abril do ano passado, depois de passar uma temporada exercendo a mesma função no Citigroup. "A intenção é fazer a plataforma de negócios do CSFB produzir todo o seu potencial", afirma. Atualmente, só a área de banco de investimentos do CSFB tem 14 profissionais. Pelo menos três grandes instituições estão em busca de um executivo para tocar seus bancos de investimentos no país. O JP Morgan confirma que procura um substituto para o lugar de Luiz Chrysostomo, que deixou o banco no ano passado. O comentário no mercado é que o processo está em fase adiantada e que o novo executivo será escolhido entre três já pré-selecionados. O Citi ainda não contratou ninguém para ocupar o lugar deixado por Olympio e preferiu não comentar os seus planos. O UBS também está contratando após perder, para o Itaú BBA, Jean-Marc Etlin, um dos dois chefes na área de banco de investimento para a América Latina, e outros dois executivos de sua equipe, Fábio Ferraz e André Kok, além de três funcionários. Entre os planos do UBS, a idéia de abrir uma divisão de renda fixa local e ampliar sua atuação no mercado de derivativos e na área de private banking. O banco tem 200 funcionários. O Deutsche Bank continua contratando, agora para a área de mercado de capitais e tesouraria. No mês passado, o banco reforçou as equipes de global markets sales no Brasil e trading de renda fixa. No ano passado, o Deutsche voltou a atuar no mercado de ações. O ING foi outro banco que tirou gente da concorrência para crescer, como Marta Alves, prata da casa do Banco Itaú, e o economista-chefe Marcelo de Carvalho, que trabalhou na Itaú Corretora, Bank of America e JP Morgan, além do analista de bancos Pedro Guimarães. O WestLB quer voltar a liderar o lançamento de eurobônus para empresas brasileiras no mercado internacional e aumentar seu foco em operações de financiamento de projetos. Pretende passar a liderar operações no mercado local de capitais, como o de debêntures. Já o sul-africano Standard passou de aproximadamente 25 funcionários no final de 2003 para mais de 50 hoje. E quer ter uma equipe de 65 até o fim do ano.