Título: Uma cadeira, 13 pretendentes
Autor: Campos, Ana Maria; Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 14/03/2010, Cidades, p. 25

Apóstrês meses das denúncias que devastaram o GDF e a pouco mais de 200dias das eleições, cenário da corrida eleitoral ao Palácio do Buritireúne candidatos de esquerda, ex-governadores e até mesmo trêsherdeiros de Arruda

Após o tsunami provocado pela Operação Caixade Pandora, os políticos do Distrito Federal começam a ensaiar osprimeiros passos para a corrida pela sucessão do governador afastado,preso e abatido eleitoralmente José Roberto Arruda (sem partido). Aindade forma tímida, dirigentes de partidos iniciaram debates sobrecomposições e alianças, em um ritmo bem mais lento do que o registradoem outras campanhas. Mesmo assim, já há alguns avanços: mapeamentofeito pelo Correio (veja quadro na página 26) mostra que pelo menos 13pré-candidatos surgem como prováveis concorrentes ao Palácio do Buritie constroem os discursos que pretendem apresentar ao eleitorado nestemomento de crise institucional no Executivo e no Legislativo.

Há quem se apresente como herdeiro do espólio de Arruda, ou seja,colaborador das realizações dos três anos de governo que deram aogovernador afastado altos índices de aprovação antes de ser fuziladopelas denúncias de corrupção e pagamento de mesadas a secretários edeputados, escândalo que estourou em 27 de novembro. Há quem busque ocaminho inverso e tente justamente se desvincular do atual governo;quem pregue mudanças radiciais nas prioridades atuais; quem pegue umacarona na chapa presidencial e quem pretenda crescer com a bandeira damoralização dos gastos públicos.

Herdeiros de Arruda

Na briga pelo espaço aberto com a derrocada de Arruda estão antigosaliados, como o deputado federal Alberto Fraga (DEM), a deputadadistrital Eliana Pedrosa (DEM) e o presidente regional do PMDB, TadeuFilippelli. Eles apostam na conquista de eleitores que não votam nospartidos da base do governo Luiz Inácio Lula da Silva, representadaprincipalmente pelo PT, estavam satisfeitos com a administração deArruda e não querem o retorno do ex-governador Joaquim Roriz (PSC).

Fraga é um dos que não escondem a vinculação com amigo e aliado.Foi o político que mais visitou Arruda na Superintendência da PolíciaFederal (PF) e criticou publicamente a sua expulsão do partido. Chamouos correligionários de covardes, mas manteve uma boa relação com acúpula do DEM. Não tenho dúvida de que o partido vai me lançarcandidato. A direção apenas pediu para dar uma segurada porque avaliaque este ainda não é o melhor momento, disse Fraga, que espera serconsagrado como presidente regional do DEM, com a intervenção decretadapela direção sob o comando do senador Marco Maciel (PE). Fraga, noentanto, terá de disputar internamente com a deputada distrital ElianaPedrosa, que também está de olho na candidatura ao GDF e tem umacapacidade grande de articulação.

Com a força de comandar o maior partido do país, o deputado federalTadeu Filippelli (PMDB) tem sido encorajado a se candidatar ao GDF,também com o discurso das grandes obras, uma vez que comandou a áreadurante oito anos do governo de Joaquim Roriz e indicou a direção daNovacap na gestão de Arruda. Ainda não tomei decisão, mas tenho muitaexperiência administrativa. Fui administrador regional de três cidades,secretário de Obras, chefe da Agência de Infraestrutura, sem qualquercondenação por irregularidade, afirma Filippelli.

Com o aval do Planalto

O candidato da preferência do presidente Lula no DF é o ex-ministrodo Esporte Agnelo Queiroz. Mas isso só aumenta a disposição do deputadofederal Geraldo Magela em derrotar o oponente interno nas préviasmarcadas para o próximo domingo. Diante da perspectiva real de retomaro Buriti, o PT vive uma guerra interna. Está dividido entre o grupo quequer manter Agnelo Queiroz para a candidatura majoritária e uma ala dopartido a favor da realização de prévias que deem a oportunidade de odeputado federal Geraldo Magela disputar a indicação.

Em novembro do ano passado, os dois políticos chegaram ao acordosobre a chapa que concorreria em 2010. Ela tinha Agnelo como opção parao GDF e Magela para o Senado. Mas esse acerto ruiu com o início daOperação Caixa de Pandora. Ao saber que Agnelo teve informaçõesprivilegiadas sobre o escândalo quando aceitou convite doex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa para assistiraos vídeos antes que fossem entregues à Polícia Federal e ao MinistérioPúblico , Magela voltou a pleitear a indicação ao governo. A guerrainterna no PT se acirrou ontem, quando foram divulgadas pela revistaÉpoca denúncias contra Agnelo. De acordo com a publicação, o petistateria comprado e reformado uma casa no Lago Sul, gastos que não seriamcondizentes com suas finanças. Além disso, ele é acusado de terinvadido área pública para construir uma quadra de tênis. O deputadosustenta ter comprado o imóvel com recursos poupados por ele e pelamulher, mas o estrago político pode ser maior do que o esperado. Ontem,o PT local se reuniu para discutir o assunto, mas nenhuma medida foitomada (leia mais na página 27).

Tentativa de retorno

O ex-governador Joaquim Roriz, hoje no PSC, garante sercandidatíssimo ao quinto mandato. Na última sexta-feira, convidou odeputado federal Jofran Frejat (PR) para ser vice em sua chapa. Aproposta foi aceita, mas a formalização depende do aval da direção doPR. Roriz quer vencer a eleição praticamente sem fazer campanha, apenascom a imagem já construída em seus governos. Só vou para a rua quandoa lei eleitoral permitir, disse ao Correio. Ou seja, a partir de 6 dejulho. Uma coisa é certa: serei candidato, mas gostaria de saber quemvou enfrentar.

Roriz mostrará ações de seu governo, mas tentará desvinculá-las dagestão Arruda. Ele diz que não teme ter a imagem vinculada às denúnciasde Durval Barbosa, secretário de Relações Institucionais do governoArruda e presidente da Codeplan na última administração Roriz. Sobre asacusações se voltarem contra ele, afirmou: Tenho minha consciênciatranquila. Se vamos fazer apuração, então voltemos ao Cristovam(Buarque). Vamos chegar ao Juscelino (Kubitschek).

Em voo solo

Na semana passada, o PSDB, que nas últimas duas eleições no DFesteve a reboque de Roriz ou Arruda, tentou marcar o território dacandidatura própria. A executiva e o diretório regionais decidiramlançar um nome para oferecer ao governador de São Paulo, José Serra provável representante na disputa presidencial , um palanque nacapital da República sem qualquer contaminação de denúncias decorrupção. Os dois nomes colocados são o da ex-governadora Maria deLourdes Abadia e o do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)Maurício Corrêa. Vamos conversar com os dois para saber qual adisposição que eles têm, afirmou o presidente regional do PSDB,Gustavo Ribeiro.

Maurício Corrêa avalia que o Distrito Federal precisa encontrar umcandidato com disposição de mudanças. Ele ainda não admite acandidatura, mas também não descarta. Chega de aventureiros. É precisoacabar com a cultura do mal, do pedágio e da propina, sustenta. Abadiavem se mantendo distante do debate eleitoral e tem dito a pessoaspróximas que não possui disposição para uma candidatura ao GDF. Aavaliação de tucanos é de que, ao entrar no páreo ao governo, denúnciasrelacionadas a Durval poderiam respingar em sua biografia.

Embora supostamente estivesse a serviço de Arruda, adversárioeleitoral de Abadia, Durval Barbosa integrou o governo que a tucanaherdou de Roriz em 2006. Ele era secretário de Relações Sindicais,cargo que lhe deu foro especial na Justiça quando já respondia a açõespenais por supostas irregularidades nos contratos com empresas deinformática. Abadia sempre desconfiou de que Durval agia em seu governopara beneficiar Arruda, mas não tinha poder para afastá-lo sob o riscode desagradar Roriz. Foi nesse período que Durval fez algumas gravaçõesincluídas no inquérito da Caixa de Pandora, em que entregava dinheiro adeputados, como Leonardo Prudente (sem partido) e Eurides Brito (PMDB),ambos aliados de Arruda na campanha de 2006.

Atrás de um novo nome

Na semana passada, o senador Cristovam Buarque (PDT) chegou aanunciar que poderia ser candidato ao GDF se fosse para enfrentarnovamente Roriz. O ex-governador lançou um novo desafio: Ele podeentrar na campanha, porque estarei lá, afirmou Roriz ao Correio. Osdois tiveram um duelo na eleição de 1998, quando Roriz saiu vitorioso etirou de Cristovam a chance de reeleição. Desde então, o pedetistanunca mais quis voltar ao Executivo. Dessa vez, no entanto, ele temsido pressionado por eleitores quando vai às ruas. Como argumento paranão entrar na disputa, defende que o Distrito Federal precisa de umnome novo. Esse nome seria o de José Antônio Reguffe (PDT).

Depois de três tentativas frustradas, Reguffe chegou em 2006 à suaprimeira legislatura como deputado distrital com chances de umaascensão meteórica. Pautado pelo discurso ético, passou os últimos trêsanos na Câmara praticamente isolado. Tinha como uma de suas bandeirasna Casa a diminuição do número de assessores e da verba indenizatória.Foi duramente criticado pelos colegas, que rejeitaram suas propostas.Com o escândalo da Caixa de Pandora, conseguiu uma projeção que colocouseu nome entre os prováveis candidatos dos partidos de esquerda.

Vislumbrando as chances reais de fazer o próximo governador, o PDTpassou a ventilar a hipótese da candidatura solo de Reguffe. A ideiaapoiada por Cristovam, no entanto, não é consenso na legenda. Oministro do Trabalho, Carlos Lupi, que comanda o PT nacionalmente, querficar à vontade para apoiar o candidato do presidente Luiz Inácio Lulada Silva no Distrito Federal. Se não houver consenso dentro do partido,Reguffe sairá para deputado federal. Neste momento, não estoupreocupado com a campanha. Estou muito mais concentrado na investigaçãodesse megaesquema de corrupção, desconversou o pré-candidato.