Título: Saúde espera recursos do BNDES para nova estatal
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Fonte: Valor Econômico, 31/03/2005, Especial, p. A12

O Ministério da Saúde pediu ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) R$ 100 milhões para construir uma fábrica de medicamentos incluída entre as prioridades da política industrial. Daria para cobrir metade dos custos da empreitada. O banco está estudando a possibilidade de liberar o dinheiro como um aporte do seu capital no projeto, e não como um empréstimo comum. A fábrica será administrada por uma nova estatal, a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás). Criada em dezembro, a empresa ainda não teve sua diretoria nomeada. O Ministério da Saúde prevê que será preciso esperar quatro anos até que as instalações da Hemobrás comecem a operar. O objetivo da empresa é produzir vários medicamentos com proteínas extraídas do sangue humano, que são usados no tratamento de doenças como a hemofilia. Como a maioria dos países, o Brasil hoje importa esses medicamentos. Somente neste ano, o governo deve gastar R$ 223 milhões para adquiri-los. Garantir a produção local desses medicamentos e acabar com a dependência dos fornecedores estrangeiros é um sonho antigo dos médicos que atuam nessa área. Mas o projeto entrou na política industrial sem uma discussão aprofundada com outros ministérios ou uma avaliação cuidadosa dos custos envolvidos. A quantidade de sangue que os brasileiros doam atualmente é suficiente para abastecer a Hemobrás e garantir autosuficiência na produção de vários hemoderivados. Hoje esse material é jogado no lixo depois que perde a validade. Mas se não houver mais doações o país continuará dependendo de importações para atender os doentes no caso do mais caro desses medicamentos, conhecido como Fator 8, mesmo com a Hemobrás funcionando. O governo quer instalar a fábrica no interior de Pernambuco, terra do ministro da Saúde, Humberto Costa. Isso implicará em custos adicionais para o transporte de matérias-primas e medicamentos, já que a maior parte do sangue coletado no país e dos doentes que precisam desses remédios estão no Sudeste. "A fábrica será construída no Nordeste porque a desconcentração regional é uma preocupação do governo", diz o coordenador da política nacional de sangue e hemoderivados do Ministério da Saúde, João Paulo Baccara. O governo de São Paulo ofereceu facilidades para a instalação da fábrica no Estado, mas Brasília desdenhou a proposta. Dificilmente uma empresa privada se interessaria em produzir esses medicamentos no Brasil, por causa dos custos e das dificuldades que haveria para garantir sangue para um projeto comercial. Não é difícil importar hemoderivados, e seus preços caem ano a ano. Será preciso esperar um bom tempo para saber se a Hemobrás conseguirá fabricá-los a um custo que justifique o investimento que será feito. (RB)