Título: Têxteis driblam efeito negativo do câmbio e lucros sobem 49%
Autor: Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2005, Empresas &, p. B1
Os resultados obtidos pelas fabricantes têxteis brasileiras em 2004 mostram que, apesar de um câmbio menos favorável à exportação, o setor conseguiu contornar esse problema. Levantamento feito pelo Valor com nove empresas mostra que o lucro das companhias subiu 48,9% de 2003 para 2004. O aumento do consumo interno combinado com a queda de 40% no preço do algodão em 2004 conseguiram superar a redução da margem com as exportações. Com esse desempenho mais robusto, as têxteis devem enfrentar o primeiro ano de eliminação das cotas de importação numa situação mais confortável. A recomendação dos analistas para as principais ações em bolsa - Santista e Coteminas - continuam inalteradas em relação a 2004, indicando compra ou manutenção. "O Brasil representa cerca de 1% do comércio têxtil mundial. O fim das cotas pode beneficiar o país porque ele deve ganhar o espaço de países menos competitivos, principalmente por termos algodão", afirma Marcio Kawassaki, analista da Fator. Por causa da queda das barreiras e a conseqüente maior competição, a Coteminas estima que seus preços de exportação, que representa cerca de 50% de sua receita - caiam até 10% neste ano. "Mas volumes maiores devem compensar isso", explica Kawasaki. Segundo Tania Sztamfater, analista do Unibanco, a Coteminas não deve ser prejudicada também porque a maior parte de suas exportações se concentra em roupas de cama, mesa e banho. "São produtos intensivos em mão-de-obra, então o Brasil consegue manter sua competitividade." Os maiores fabricantes mundiais são Paquistão e Índia. O Unibanco prevê uma receita líquida de R$ 1,74 bilhão em 2005, um crescimento de 22,5% em relação a 2004. Para o lucro, projeta-se uma alta de 50%. Esses valores incluem a incorporação da Santanense, comprada pela Coteminas em julho, mas, para Sztamfater, o resultado da Coteminas cresceria mesmo sem essa aquisição. Para a Santista Têxtil, a corretora Fator também prevê crescimento nas vendas. Segundo o analista Kawasaki, o desempenho inferior da Santista em 2004 se deveu principalmente pelo impacto do câmbio nas exportações, do mau desempenho da operação de confecção e da incorporação da Jauense. "O fim das cotas não deve representar um problema a mais para ela." O maior desafio neste ano deve continuar sendo o câmbio. "Exportar hoje é mais uma decisão estratégica do que de maximizar lucro. Se fosse pelo lucro, direcionaríamos a produção para o consumo interno", afirma João Moura Filho, diretor financeiro da Paramount. A fabricante de fios e tecidos de lã prevê que neste ano exportará o mesmo volume de 2004. Na comparação 2003/2004, o volume vendido ao exterior cresceu 10%. O impacto maior da valorização do real deve vir nos resultados do primeiro trimestre. Na comparação com o mesmo período de 2004 (até 30/3), a moeda brasileira valorizou-se 8,3%. "Uma nuvem negra paira as exportações das empresas por causa do câmbio. Não projeto uma redução de volume, mas, sim, de receita", diz Kawazaki. Crentes num consumo maior, Vicunha, Coteminas e Paramount aumentam a produção neste