Título: Citigroup afirma que Dantas tentou "extorquir" benefícios do banco
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2005, Empresas &, p. B4

O Citigroup acusa Daniel Dantas de iniciar a venda das participações na Telemig Celular e Tele Norte Celular para tentar "extorquir" benefícios do banco para sua participação acionária pessoal. A ação na Justiça de Nova York alega quebra de contrato pelo Opportunity na gestão do CVC e descumprimento de deveres fiduciários por Dantas. Ao longo de todo o processo, o Citi deixou claro que, mesmo demitindo Dantas da gestão do fundo sem justa causa, não abriria mão do direito de processá-lo no futuro, eventualmente pedindo indenização. Depoimentos anexados ao processo acusam Dantas de condicionar a interrupção do processo de leilão à garantia de que sua participação acionária pessoal recebesse o mesmo tratamento do bloco de controle detido pelo Citigroup no momento da venda. A principal testemunha do Citigroup no processo contra Dantas, que tem cerca de 500 páginas em documentos e depoimentos, é o diretor da divisão de América Latina do Citigroup Venture Capital International, Paulo Caldeira, que tem participação no CVC Opportunity. Caldeira assumiu o cargo em setembro de 2003 e desde então tem sido responsável pelas negociações com Dantas. Apesar de sucessivas negativas do Citigroup às sugestões de venda das participações feitas por Dantas, o Opportunity iniciou os procedimentos para o leilão da Telemig Celular e Tele Norte Celular na sexta-feira, dia 4 de março. A intenção era vender a participação da Futuretel (veículo usado pelo fundo CVC Opportunity para controlar as companhias) junto com as ações detidas pela Highlake International, empresa controlada por Dantas e acionista minoritária das empresas. O Citi afirma ter participação de 33% na Highlake, mas Dantas contesta essa afirmação. "O leilão foi iniciado sem nenhum aviso prévio (...). Fiquei chocado ao saber que os réus haviam iniciado a venda de ativos críticos do Fundo", afirmou Caldeira em sua declaração. Segundo ele, Dantas avisou o Citigroup da venda num telefonema no mesmo dia em que comunicou o fato à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à imprensa. Caldeira disse que foi surpreendido porque havia tido reuniões dias antes com Verônica Dantas, irmã de Daniel e diretora do Opportunity, e em nenhum momento o leilão foi mencionado. Imediatamente o Citi opôs-se à venda, mas o Opportunity disse que não poderia interromper o processo por já ter feito a comunicação ao mercado. Foram anexados aos processos e-mails trocados entre Dantas e Caldeira sobre o assunto, nos quais o Citi deixa claro não estar interessado na venda. "Me parece que a intenção deles era vender logo a participação na Highlake, cujo interesse não seria grande para possíveis compradores porque é uma participação minoritária na Telemig", diz Caldeira. O Citigroup já havia recusado uma proposta anterior feita por Dantas para a venda no fim de janeiro. Num e-mail, Dantas diz ter sido procurado pelo investidor Naji Nahas, representando a Telecom Italia, dizendo que a empresa era contra a troca de participações acionárias do CVC Opportunity na Telemar pelas participações dos fundos de pensão na Brasil Telecom. Mas Dantas diz ter recebido o sinal verde da Previ, da Anatel e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para fazer a operação. O executivo sugere que a troca seja feita junto com a venda de participações na Telemig e Tele Norte. "Essa saída acabaria com todos os conflitos existentes com os fundos de pensão", diz Dantas, acrescentando que um dos potenciais compradores seria a Portugal Telecom. As sugestões foram imediatamente rechaçadas por e-mail por executivos do Citi. Pouco mais de um mês depois, Dantas iniciou o leilão contratando como assessor o Deutsche Bank. Logo após saber da comunicação ao mercado, o Citigroup intensificou a troca de e-mails e telefonemas com Dantas. Em 5 de março, dia seguinte ao anúncio, Dantas garantiu em telefonema ao executivo-chefe do Citigroup Alternative Investments, Michael Carpenter, que cancelaria o leilão. Numa reunião na segunda-feira em Nova York, à qual estiveram presentes Daniel e Verônica Dantas, o executivo voltou atrás. Segundo Caldeira, "Dantas tentou extrair como condição para interromper o leilão o direito de 'tag along' para as ações da Highlake em qualquer venda subseqüente das participações". "Tag along" é o mecanismo pelo qual o preço atribuído às ações do grupo de controle é estendido para as ações dos minoritários. O Citigroup negou o pedido e avisou que destituiria Dantas da gestão. O executivo teria então ameaçado assinar acordos em nome do CVC antes da destituição, segundo Caldeira "como já havia feito anteriormente em detrimento do International Equity Investments [CVC]". Acordo semelhante teria sido feito para beneficiar a participação de Dantas na Brasil Telecom. Em seguida começou a disputa para remover Dantas. O Citigroup só entrou na Justiça quando o executivo negou-se a fazer o registro da exclusão nas Ilhas Cayman.