Título: Auditor encontra rombo de US$ 11 milhões
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2005, Empresas &, p. B4

A auditoria que o Citigroup começou a fazer no fundo CVC Opportunity encontrou US$ 11 milhões de despesas sem comprovação e a empresa contratada pelo banco para fazer essa investigação não conseguiu receber a maior parte dos documentos requisitados. O Citigroup insistiu em não renunciar ao direito de pedir indenização a Dantas na Justiça apesar de dispensá-lo oficialmente como administrador do CVC sem justa causa. O conjunto de documentos do processo movido pelo banco americano contra o executivo Daniel Dantas na Justiça de Nova York mostra que Dantas iniciou o leilão do controle da Telemig Celular e Tele Norte Celular dias depois da escalada de desentendimentos entre os auditores e o Opportunity e de acusações de bloqueio do acesso aos registros do fundo CVC. Um dos argumentos usados pelo Opportunity para não entregar documentos (como e-mails) foi a blitz da Polícia Federal em sua sede no ano passado. A PF apreendeu computadores para apurar denúncias de espionagem do grupo contra dirigentes de fundos de pensão estatais e funcionários públicos. Segundo declaração de James Murray, diretor da empresa de investigações Citigate Global Intelligence and Security, que chefia a auditoria, o Opportunity não forneceu "documentação relativa a questões legais envolvendo o fundo (ou, em sua capacidade como administrador, o Opportunity) com advogados externos, incluindo cartas de contratação, para sustentar a cobrança de taxas de mais de US$ 11 milhões (de um total de US$ 14 milhões em despesas gerais e administrativas) pagas a mais de 30 escritórios de advocacia no Brasil, Ilhas Cayman e outros (...)". A declaração de Murray consta do processo movido pelo Citigroup em Nova York por quebra de contrato e descumprimento de dever fiduciário. Numa carta cobrando mais acesso aos auditores, o Citigroup (representado pela subsidiária International Equity Investments) rebate o argumento de que os documentos legais não poderiam ser entregues por "confidencialidade" na relação entre cliente e advogado. "Não acreditamos que nenhuma prerrogativa será quebrada se os documentos forem mostrados aos auditores que representam o único investidor do fundo, em conexão com seu direito contratual de revisão dos livros e registros contábeis", argumenta a carta, de 22 de fevereiro, também anexada ao processo em Nova York. Os auditores pedem insistentemente os textos de acordos de acionistas nos quais o CVC e o Opportunity são partes e documentos que mostrem as mudanças na participação acionária do fundo em diversas empresas criadas para controlar as companhias telefônicas desde sua aquisição nos leilões de privatização. O Citi também quer mais documentos sobre a capitalização destas companhias, inclusive emissão de dívida e cópias da correspondência do fundo. O maior argumento de Dantas para não fornecer a correspondência, em especial eletrônica, é a apreensão de servidores pela Polícia Federal, que conteriam todos os e-mails. "Estamos surpresos com o fato de não ter sido mantido nenhum 'backup' da dita correspondência", diz a carta do Citigroup. "A afirmação de que os senhores não têm essa correspondência eletrônica também é inconsistente com o fato de que, depois da data da ação da PF e antes desta auditoria, o Opportunity nos forneceu algumas cópias selecionadas de correspondência eletrônica". O Opportunity entregou apenas alguns e-mails trocados com o Citigroup. A carta do Citi afirma que "os auditores foram surpreendidos pela pobreza da documentação relativa aos investimentos do fundo nas empresas do portfólio". Também faltam extratos da movimentação financeira do fundo e a lista de empregados envolvida na administração do CVC. Outro pedido não atendido é o de comprovantes de todas as despesas administrativas do CVC desde sua criação. James Murray, que chefia a auditoria, já foi diretor da Kroll e auditor do estado de Nova York, além de liderar investigações no estado sobre desvios de dinheiro de programas de saúde pública. Segundo sua declaração, a Citigate e a auditoria Trevisan foram contratadas no início de fevereiro para auditar o CVC e os trabalhos começaram no dia 14 do mesmo mês na sede do Opportunity. O Opportunity também não entregou relatórios de auditoria externa do CVC. Murray descreve os esforços dos auditores durante um mês para conseguir essa lista de documentos, sem resultado. Em 14 de março, o Opportunity informou que havia desmontado o grupo responsável pela compilação de documentos. Depois, forneceu cópias de alguns e-mails, que eram principalmente informações públicas como comunicados ou relatórios de analistas. No dia seguinte, forneceu relatórios de avaliação feitos por contadores externos, aos quais o Citi já tinha acesso, e não fez previsão sobre quando poderia entregar os documentos requisitados. Pelas datas nos documentos, fica claro que a auditoria começou logo depois que Dantas decidiu transferir a custódia dos registros de ações das companhias do CVC do Banco Itaú para uma empresa afiliada ao Opportunity, sem consulta prévia ao Citi. Segundo um dos depoimentos dados por Paulo Caldeira, diretor do Citigroup, "esses livros são a prova de controle das empresas". Caldeira disse "não acreditar ser uma coincidência que os livros de registro tenham sido transferidos de uma instituição financeira respeitada e independente ao mesmo tempo em que nossas discussões com Dantas ficaram mais difíceis e ficava cada vez mais claro para ele que estávamos descontentes com seus serviços". Um dos executivos do Opportunity chegou a informar aos auditores que não forneceria mais documentos por conta de uma notícia publicada pela imprensa brasileira. A carta não se refere especificamente ao teor da notícia, dizendo apenas que o Citigroup "não tem conhecimento da fonte da notícia". Pouco antes da data da carta, no fim de janeiro, foi anunciado um acordo entre o Citigroup e o ex-executivo do Opportunity, Luís Roberto Demarco, que retirou liminares que restringiam a atuação do Citigroup no CVC. (TB)