Título: Planejamento e disciplina para investimento de longo prazo
Autor: Marcelo Gerbassi
Fonte: Valor Econômico, 31/03/2005, EU &, p. D2
O planejamento de uma estratégia de investimento de longo prazo é fundamental para os investidores que buscam constituir uma reserva financeira para o futuro. A definição de uma estratégia de longo prazo normalmente considera os objetivos e limitações do investidor e o tempo estimado para a maturação do investimento. A partir destas informações, o planejamento passa para a esfera de alocação dos recursos entre as diversas classes de ativos, como renda fixa, ações, moeda estrangeira entre outros, e por meio de veículos de investimento como fundos abertos, PGBL e VGBL, que possuem diferenciações tributárias. A alocação, por sua vez, depende dos instrumentos de investimento disponíveis, da análise de suas características de retorno e risco e de como o investidor compreende e tolera as oscilações destes ativos. Em geral, o investidor de longo prazo precisa se preocupar mais com o rebalanceamento periódico do seu portfólio global em função de mudanças estruturais do cenário econômico do que com oscilações "intra-day". O estudo "Determinants of Portfolio Performance II", de Brinson, Beebower & Singer, publicado no Financial Analysts Journal, apontou que 91,5% do retorno de uma carteira é explicado pela alocação de ativos, enquanto a seleção de ativos e "market timing" são responsáveis apenas por 2,1% e 1,8%, respectivamente. Como o processo de alocação é o maior determinante para a performance do portfólio, também acaba sendo ponto crítico para o sucesso de uma estratégia de investimento de longo prazo. Outro ponto que ganha relevância no planejamento de longo prazo é a utilização do veículo adequado. Atualmente, em função das novas regras de tributação dos produtos de vida e previdência, com alíquotas decrescentes em função do prazo aplicado, o montante acumulado nestes planos pode ser muito superior a uma aplicação de um fundo de investimento com a mesma rentabilidade e taxa de administração. Obviamente estes benefícios só começam a valer depois de alguns anos de aplicação dos recursos. O maior desafio que o investidor terá ao longo dos anos é conseguir implementar a estratégia de alocação sem se perder nos modismos e tendências de curto prazo. A importância da disciplina no processo de investimento já tinha sido apontada na primeira edição do livro "The Intelligent Investor", publicado em 1934, de Benjamim Graham, professor e guru de Warren Buffett. Graham deixava claro que o maior inimigo do investidor é ele mesmo, exatamente pela dificuldade em focar seus esforços na implementação de sua estratégia de longo prazo sem ser influenciado pela possibilidade de ganho "fácil" e retorno de curto prazo, fruto de janelas de oportunidades que dificilmente se repetem. São muitas as histórias de investidores que compraram na alta do mercado e venderam na baixa exatamente pela falta de disciplina e foco em uma estratégia de alocação que indicasse justamente o contrário. Charles D. Ellis, chairman da Investor Education e autor de livros como "Winning the Loser's Game" e "Capital: The Story of Long-Term Investment Excellence", cita que o sucesso do investimento depende muito de evitar incorrer em grandes perdas, que geralmente acontecem quando se tenta ganhar mais correndo maior risco. É uma situação comum quando não existe uma estratégia de investimento ou ela não é respeitada. Para quem não está acostumado ou não conhece as tecnicidades do mercado, a sugestão é definir o veículo de investimento a partir do prazo estimado para a sua aplicação. Em comparação com um fundo aberto, o PGBL é indicado para horizonte de investimento superior a quatro anos, enquanto o VGBL se torna mais vantajoso depois de oito anos de aplicação, considerando a mesma rentabilidade e taxa de administração. A distribuição dos recursos deve partir de uma alocação entre um fundo de renda fixa, um fundo de ações bem diversificado e um fundo cambial. Quanto maior o prazo de aplicação e maior a tolerância do investidor às oscilações dos ativos mais voláteis - geralmente ações e câmbio-, maior poderá ser a alocação nesses fundos reduzindo, assim, o percentual em renda fixa. O rebalanceamento periódico é muito importante para manter a diversificação e deve ser realizado sempre que os percentuais em cada fundo ficarem muito distantes do que foi definido inicialmente. Apesar de não existir garantia de que os objetivos pré-definidos serão alcançados, o planejamento financeiro adequado de longo prazo funciona como um balizador para que o investidor possa seguir uma estratégia, evitando a alocação errática e eventuais prejuízos.