Título: IBGE - aumento da qualidade
Autor: Antonio Delfim Netto
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2005, Brasil, p. A2

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) tem aperfeiçoado de maneira notável a qualidade das informações sobre todos os aspectos da vida brasileira. Não só a qualidade melhorou, como a velocidade com que ele tem divulgado seus levantamentos tem aumentado consideravelmente, ampliando, assim, o valor da informação. O IBGE precisa e deve ser uma autarquia absolutamente independente do poder político incumbente, pois são suas informações que, ao final, avalizam a propriedade, a qualidade e a intensidade da resposta da realidade aos projetos do governo. Foi por isso que houve uma grande reação da sociedade quando se soube que "o governo queria receber antecipadamente os resultados a serem publicados". Isso poderia ser o início de um intervenção para controlar as informações. Felizmente o mal-entendido foi desfeito: o Executivo apenas recebe antecipadamente os dados para que possa estar preparado a dar respostas precisas tão logo (dois ou três dias depois) eles cheguem à imprensa.

Um exemplo do que estamos dizendo foi dado com a publicação, na semana passada, da "revisão do Sistema de Contas Nacionais Trimestrais". No cronograma até então utilizado, previa-se uma vez por ano (em novembro) a revisão das séries publicadas. Com as novas informações tornou-se possível incorporar as revisões das séries do trimestre imediatamente anterior. Com isso a nova publicação já inclui os dados do terceiro trimestre de 2004. O Produto Interno Bruto (PIB) de 2004 foi de R$ 1.769,2 bilhões que, calculado aos preços de 2003 atingiu R$ 1.636,9 bilhões, revelando um deflator implícito do PIB da ordem de 8,1%. Este é o índice de preços mais geral possível, porque inclui todos os bens e serviços manipulados pela sociedade brasileira ao longo de 2004. A tabela abaixo compara três índices de preços de qualidade e amplitude diferentes, no período 1999-2004.

Divulgação também tem sido mais rápida

Os números revelam uma altíssima variabilidade entre as "estimativas" de inflação de acordo com o índice selecionado. Não é preciso nenhum instrumento estatístico mais preciso para verificar que o IGP-DI (com o qual se corrigem as tarifas dos serviços públicos) superestima de forma importante a taxa de inflação. Vemos, por outro lado, uma boa correlação no médio prazo entre o IPCA, que é, de fato, um índice de preços levantados no mercado (e, portanto, de preços que "passaram" no teste da demanda) e o deflator implícito. Uma tarifa (sem correção de qualquer ganho de produtividade) corrigida pelo IPCA teria crescido de 100 (em 1998) para 165 em 2004. Corrigido pelo deflator implícito, ela teria passado de 100 (em 1998) para 169 em 2004. Se corrigido pelo IGP-DI, ela teria passado de 100 (em 1998) para 224 em 2004, com uma superestimação da ordem de 33%! As diferenças entre o IPCA e o deflator implícito em 2002 e 2003 se devem ao "imbróglio" da sucessão presidencial que produziu uma aceleração da inflação e um aumento desmedido da taxa de câmbio. Com os últimos números divulgados pelo IBGE temos o seguinte: No segundo mandato de FHC (1999-2002) a economia cresceu 2,1% ao ano. Descontado o aumento da população (1,5% ao ano), deixou um aumento do PIB "per capita" de 0,6% ao ano. Nos dois primeiros anos do governo Lula o crescimento médio acelerou-se para 2,9% ao ano, deixando um aumento de PIB "per capita" da ordem de 1,4%, o dobro do período anterior.