Título: Amorim não vê transparência na OMC
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2005, Brasil, p. A5

A Organização Mundial do Comércio (OMC) é um dos lugares menos transparentes do mundo em matéria de relações internacionais, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao comentar o processo de escolha para o novo diretor-geral da instituição, que tem, entre os candidatos ao posto, o brasileiro Luis Felipe de Seixas Corrêa. O comentário de Celso Amorim ocorre poucos dias depois de fortes discussões na sede da OMC, em Genebra, entre diplomatas descontentes com a coordenação do processo eleitoral na OMC, pela presidente do conselho geral da organização, a embaixadora do Quênia, Amina Mohamed. O processo de escolha do novo diretor-geral da OMC não segue o processo eleitoral normal, de contagem de votos, porque depende de consenso entre os 148 países membros. É com esse consenso que o governo brasileiro conta, para favorecer o brasileiro Seixas Corrêa, que se lançou na disputa quando já estava em curso a candidatura do uruguaio Carlos Perez del Castillo. Todos os outros sócios do Mercosul já haviam se comprometido com a candidatura do uruguaio, e o anunciaram publicamente nos últimos dias - embora a Argentina tenha incluído no anúncio elogios a Seixas Corrêa. "As pessoas que se lançam antes têm apoios antes, e é natural que quem deu o apoio não queira voltar atrás", argumentou Amorim. "Nunca pedimos a ninguém para mudar a opinião; mas se buscarem aferir a aceitação dos candidatos, quem é capaz de obter mais consenso, é capaz de levar mais apoios até o final, acho que nosso candidato se fortalece, tem mais chance". Na busca do consenso, os países devem anunciar suas preferências, e podem também anunciar vetos a candidatos, o que leva a rodadas de discussão e aproximações, com eliminação de candidatos menos votados ou com maior índice de rejeição. O governo brasileiro conta com um baixo índice de rejeição a Seixas entre a maioria dos membros, e com a escolha do brasileiro como segunda opção por um número grande de países, como no caso da Argentina. Mas teme que se crie um processo que, na prática, se iguale a uma votação, o que poderia prejudicar Seixas Corrêa, ao fazer com que seu nome fosse eliminado nas primeira rodadas de aproximação. "A OMC é um dos lugares menos transparentes que conheço em matéria de relações internacionais, portanto lá tudo pode se passar", disse Amorim. "Esperamos que se passe da maneira como combinado, que os países manifestarão as preferências, no plural", disse o ministro.