Título: Richa já fez mudança no secretariado
Autor: Marli Lima
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2005, Política, p. A6

Trocas no secretariado menos de três meses depois da posse, criação de uma tarifa de ônibus 47% mais barata para os domingos, aumento da sinalização nas proximidades de radares e denúncia de um déficit de R$ 53,9 milhões deixado pela gestão anterior foram alguns dos fatos que marcaram os primeiros 100 dias de Beto Richa (PSDB) no comando de Curitiba (PR). Em seu primeiro mandato como prefeito, o filho do ex-governador José Richa tem enfrentado uma oposição branda, embora não tenha encontrado ainda uma solução para reduzir o preço da passagem do transporte coletivo, uma de suas principais promessas. Em março reuniu representantes de 22 capitais e grandes municípios para pressionar o governo federal a diminuir os impostos que pesam no preço do bilhete de ônibus. A discussão terá continuidade no dia 14, em reunião da Frente Nacional dos Prefeitos, em Salvador (BA). Atualmente o clima na cidade é de espera. Na Câmara Municipal, Richa conta com o apoio da maioria dos vereadores e mesmo o líder da bancada do PT, André Passos, diz que é cedo para avaliar o desempenho do prefeito. Mas Passos não gostou da reforma no primeiro escalão, feita em 23 de março. "Saiu o secretário que parecia estar disposto a limpar as pendências do município e, no lugar dele, entrou um que cuidou da parte jurídica na administração passada", disse, referindo-se à entrada na Secretaria de Governo do ex-procurador do município, Maurício Ferrante, em substituição a Ricardo MacDonald Ghisi, que questionou as contas deixadas pelo ex-prefeito Cassio Taniguchi (PFL) e desagradou aliados. "Acredito que o Ferrante seja probo, mas estranho o fato de Richa convidar gente da equipe passada", completou, citando outro exemplo, o retorno do arquiteto Luiz Fernando Jamur para a Secretaria de Urbanismo. O líder do prefeito na Câmara, Mário Celso Cunha (PSB), vê a reforma no secretariado com outros olhos. "Velhos caciques têm equipe formada. O Beto formou uma pela primeira vez, e teve coragem de mudar", defendeu. Substituição foi feita também na Secretaria de Finanças, porque o titular, Edson Guimarães Neves, saiu ao ser aprovado em concurso federal. Foi com uma medida que não estava nos planos de governo e que já era usada em outras cidades, como Recife (PE), que ele mais chamou a atenção. A prefeitura diz que a redução do preço do bilhete no domingo resultou no aumento de 100 mil passageiros no dia, e também ajudou a reduzir a inflação na cidade, segundo levantamento feito pela Fae Business School. Para alguns curitibanos, a domingueira, como é chamada, soa como uma medida populista. Richa defende-se das cobranças dizendo que, indiretamente, baixou os gastos com ônibus, porque congelou em janeiro o preço do bilhete em R$ 1,90 e impediu o aumento previsto para fevereiro. Nos próximos dias será divulgado o resultado do trabalho de uma comissão que estuda a planilha de custos do transporte para torná-la transparente. "Assumi com a tarifa mais cara do Brasil e hoje não estamos mais no topo", disse. Enquanto a comissão do transporte trabalha, Richa enfrenta o desafio de solucionar o problema de coleta e destinação final do lixo. O trabalho é feito pela Cavo, do grupo Camargo Corrêa, uma das principais doadoras da campanha eleitoral da cidade, que investiu R$ 2,2 milhões na disputa, sendo R$ 300 mil no tucano. A licitação para a escolha da empresa prestadora do serviço foi questionada judicialmente e, desde o ano passado, a prefeitura tem firmado contratos emergenciais com a Cavo, de 90 dias, por R$ 16,5 milhões, valor questionado pela oposição. Antes de assumir a prefeitura, Richa foi vice de Taniguchi, mas partiu para a candidatura sem apoio do pefelista. Em dezembro, quando os carnês do IPTU começaram a ser distribuídos, uma nova briga foi anunciada, porque foi concedido desconto de 20% para quem quitasse o imposto até 3 de janeiro. Prevendo que muitos antecipariam o pagamento antes das festas de final de ano e temendo perda de receita, Richa prometeu, antes de assumir, que prorrogaria o desconto, o que acabou sendo um de seus primeiros atos. Em fevereiro, o tucano denunciou que a gestão anterior havia deixado um rombo de R$ 53,9 milhões. Os documentos foram encaminhado para a Justiça. O ex-secretário de Finanças, Carlos Carvalho, foi à Câmara de Vereadores explicar os números e disse não ter feito nada de errado. Depois de ter deixado a prefeitura, Taniguchi admitiu o desejo de candidatar-se ao governo em 2006.