Título: Em Florianópolis, rombo na Previdencia é o maior problema
Autor: Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2005, Política, p. A6

O governo de Dário Berger (PSDB) mostra-se lento diante das promessas de investimentos feitas durante a campanha. Alegando falta de margem financeira, o prefeito de Florianópolis diz que não pôde pisar no acelerador nos primeiros 100 dias de sua administração. Afirma ter sido surpreendido por uma prefeitura desestruturada, com dívidas de curto prazo de pelo menos R$ 60 milhões, que precisam ser sanadas antes de qualquer investimento. Por enquanto, Berger diz ter deixado a cidade de pé. Como Florianópolis recebe alto volume de turistas no verão, o prefeito afirma que concentrou esforços nos primeiros dias para manter os serviços aos cidadãos e nas apurações do rombo deixado. Seu governo, no entanto, tem recebido críticas da população, que espera pelo asfalto - principal bandeira do seu programa de governo - e por mudanças no transporte coletivo. A reclamação principal é a falta de integração do sistema de ônibus. Berger desativou alguns terminais que considerava desnecessários, chamou o arquiteto paranaense Jaime Lerner para conversas sobre melhorias na cidade, mas tem adiado questões práticas como a abertura do que chamou de "caixa preta" do transporte coletivo, que seria uma investigação das contas e dos contratos de prestação de serviços com as empresas privadas. Talvez por aí consiga-se concluir por que a tarifa média de Florianópolis (R$ 1,78) é uma das mais caras do país. "Das promessas de campanha, ainda não vimos nada", diz o deputado federal do PT, Mauro Passos, um dos grandes opositores de Berger. "Foi uma candidatura que criou uma expectativa muito grande em torno de si. E o atendimento dessa expectativa tem deixado a desejar". Ele diz que o argumento do tucano de que o problema é caixa, é conversa de prefeito eleito. "Não basta anunciar falência, tem que punir os responsáveis", destaca. Berger afirma que iniciou uma verdade guerra para saneamento das contas públicas. Está concentrando as despesas na sua caneta. "Estamos com tolerância zero para as despesas. Cortamos horas extras e passamos esses meses economizando para fazer frente à dívida contratada na administração anterior, já que uma parte será paga dia 30 de abril. Queremos negociar como o governo de José Serra fez recentemente em São Paulo", diz. Partidários do governo defendem que a situação até agora foi muito difícil. Comentam que a imagem que se vendia da Prefeitura de Florianópolis era de contas enxutas. Hazael Batista, vereador do PSDB, questiona: "Como o governo faria qualquer ação se não há caixa?" Ele defende que a acusação contra a administração da então prefeita Ângela Amin (PP) não foi ainda para a justiça porque o governo esperava relatório de auditores independentes. O relatório saiu no último dia 31. O prefeito contratou a Martinelli Auditoria, de Joinville, com intuito de ter em mãos detalhadamente os problemas. O mais grave apurado é o rombo deixado no fundo previdenciário. O recursos do fundo, no valor aproximado de R$ 18 milhões, foram colocados no Banco Santos e minguaram com a quebra do banco. A conta dos servidores caiu para cerca de R$ 250 mil em um curto espaço de tempo. Desde que assumiu, Berger tem mantido o sistema previdenciário municipal com recursos do caixa da prefeitura, situação que é ilegal e que deixa o município sem o certificado de regularidade previdenciária, impedido, portanto, de contratar empréstimos federais. Diante da situação como um todo, considerada gravíssima pelo governo tucano, uma aproximação com o governo estadual tem sido feita com bastante afinco. O governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) deve compartilhar com Berger os investimentos em obras em Florianópolis e pretende já nos próximos dias tirar a prefeitura do aluguel (R$ 80 mil/mês), cedendo o prédio da Secretaria da Fazenda à administração municipal. "Sem o governo do Estado, as obras previstas para o segundo semestre até saem, mas saem bastante reduzidas", diz Berger, que também já programa venda de ativos do município como o prédio de atendimento ao cidadão para levantar caixa.