Título: Varejo e bancos reavaliam parcerias
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2005, Finanças, p. C3

A bolha das parcerias entre bancos e varejo para explorar o potencial do financiamento ao consumo pode murchar caso os negócios já realizados comecem a dar resultados inferiores aos projetados. "Muitas parcerias envolveram vultosas somas de dinheiro baseados em uma perspectiva de negócio e não em negócios já existentes, criando o perigo da supervalorização", disse o sócio diretor da Partner, Álvaro Musa, que participou, ontem, da Cards 2005 - 10 ª Exposição e Conferência Internacional de Cartões, Serviços e Tecnologias. Segundo o diretor executivo de cartões da Losango, financeira adquirida pelo HSBC do Lloyds TSB, Leandro Vilain, que também participou dos debates na Cards 2005, muito negócios foram fechados "na euforia, sem fazer contas". Os dois especialistas evitaram citar nomes. Nos últimos meses, pelo menos três grandes alianças entre grandes bancos e empresas de varejo foram feitas. O Unibanco comprou a administradora de cartões HiperCard, cartão de crédito independente aceito em mais de 62 mil pontos de venda, notadamente no Nordeste, com base de 2,3 milhões de clientes dos quais 64% ativos. O banco pagou R$ 630 milhões, o equivalente a R$ 274 por cliente ou R$ 428 por cliente ativos, calculou a Partner. E o Itaú selou duas parcerias: uma com o Pão de Açúcar e outra com a Lojas Americanas. No caso do Pão de Açúcar, que tem 3,3 milhões de cartões private label, o preço pago foi de R$ 455 milhões ou R$ 138 por cliente cadastrado. A parceria com a Lojas Americanas, que tem fluxo de 1 milhão de clientes por dia e de 3 milhões por mês no seu site na internet, o acordo custou R$ 240 milhões, ou R$ 87 por cliente. Para Musa, o excesso de oferta de serviços pode levar a uma "leniência" que induza o cliente a tomar crédito em excesso. Já para Vilain, o maior perigo pode vir de uma aceleração dos preços do petróleo que exija a elevação dos juros no mercado interno, provocando a queda da renda e do consumo no mercado interno. O diretor da Losango informou que, para cada ponto percentual que o Produto Interno Bruto (PIB) cresce, o crédito para a pessoa física cresce 5; e o crédito pessoal aumenta muito mais, 10 vezes. Mas, o contrário também é verdadeiro: se o PIB encolhe um ponto, o crédito pessoal diminui 10%. Um dos temas debatidos na Cards 2005 foi o papel dos cartões de loja ou private labels como uma das fronteiras de expansão do crédito. Estima-se que existam 520 milhões de cartões com alguma tecnologia (chip ou tarja magnética ou código de barras) em circulação no Brasil. Desse total, 200 milhões são cartões de crédito e débito, informou o diretor da Associação Brasileira das Empresas de cartões de Crédito e Serviços (Abecs), Antonio Luiz Rios da Silva e também da Visanet. Os cartões de loja somam 69 milhões, calcula a Partner, mais do que os 56 milhões de crédito, mas faturam R$ 17,1 bilhões, menos do que os R$ 100 milhões dos segundos.