Título: Ritmo de crescimento da indústria diminui, diz CNI
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 06/04/2005, Brasil, p. A5

A análise dos indicadores industriais de fevereiro, divulgada ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que está ocorrendo redução no ritmo de crescimento da atividade do setor. "Há sinais de acomodação", afirma o coordenador da Unidade de Política Econômica, Flávio Castelo Branco. A comparação dos cinco indicadores da CNI - vendas reais, pessoal empregado, salários líquidos, horas trabalhadas e utilização da capacidade - apresenta variações positivas em relação a janeiro, mas, segundo a entidade, sem intensidade suficiente para compensar as quedas ocorridas naquele mês. As vendas reais da indústria, em fevereiro, cresceram 2,85% em relação ao mês anterior na série com ajuste sazonal. Mas a queda em janeiro foi de 3,20% na comparação com dezembro. Segundo Castelo Branco, a valorização do real em relação ao dólar nos últimos meses está afetando o faturamento real da indústria. O indicador de "pessoal empregado" revela, segundo o economista, que os empresários continuam mantendo suas apostas otimistas em relação a um prazo mais longo. Os altos custos na dispensa de em pregados impõem para esse indicador variações menos abruptas. Segundo a CNI, fevereiro foi o décimo quarto mês consecutivo com crescimento do indicador "pessoal empregado total", o que significa variação de 7,6% no quadro de empregados no período. Em fevereiro, o contingente de trabalhadores na indústria foi ampliado em 0,23% (já livre de influências sazonais). Nos últimos treze anos, a CNI não tem registro de outro momento "tão auspicioso para o emprego", como afirma no relatório. Quanto ao total de salários líquidos pagos na indústria, a CNI informa que, em fevereiro, houve discreto crescimento de 0,09% sobre janeiro, também na série sem influências sazonais. A massa de salários está praticamente estável desde dezembro de 2004. As horas trabalhadas na produção, em fevereiro, aumentaram 0,82% em relação ao mês anterior. Mas janeiro tinha revelado queda de 2,09% sobre dezembro, sempre na série com ajuste. Com relação ao uso da capacidade instalada da indústria, fevereiro registrou 81,9%, o que indica, segundo a CNI, estabilidade com relação com o mês anterior. Comparando-se com o terceiro trimestre de 2004 (83,3%), houve uma maior folga. Castelo Branco diz que a política monetária "apertada" - a taxa básica de juros está em 19,25% e sobe desde setembro de 2004 - não reverteu as expectativas de longo prazo para investimentos e contratações na indústria. Além disso, há o impacto positivo das exportações. O economista também acredita que, no curto prazo, o que tem sustentado a demanda interna é o aumento do crédito em consignação na folha de pagamentos. Quanto às perspectivas, o economista da CNI afirma que a massa salarial continua crescendo lentamente. E se a política fiscal é expansionista, a monetária é contracionista. Na demanda externa, a sustentação vem ocorrendo com o crescimento das economias americana e chinesa, o que traz impacto positivo sobre as exportações. "O ciclo de ajuste da política monetária pode estar chegando ao fim. Se os outros fatores continuarem expansionistas, a conjectura é de um crescimento maior por um prazo mais longo", diz ele. Mas o economista da CNI afirma que é extremamente perigoso dizer que "estamos crescendo apesar dos juros altos". Para ele, no segundo semestre a indústria pode ter danos mais fortes se a política monetária continuar assim por mais tempo. "É um risco muito grande manter essa política monetária de juros altos até agosto. O impacto positivo da ampliação do crédito também tem seu ciclo. As pessoas não podem se endividar permanentemente", alerta. Quanto à capacidade instalada, os dois primeiros meses mostraram que as importações de máquinas e equipamentos continuam altas. Se em outubro foi registrado o pico de 84% nesse indicador - o que fez crescer os investimentos - Castelo Branco também reconhece que foi precipitado o diagnóstico segundo o qual haveria rapidamente uma exaustão na capacidade das indústrias.