Título: Aproximação com Jarbas marca segundo mandato
Autor: Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 06/04/2005, Política, p. A6

O primeiro prefeito reeleito do Recife, João Paulo, mudou metade do seu secretariado, para acomodar as alianças de sua segunda campanha eleitoral, intensificou a aproximação com o o governador Jarbas Vasconcelos. Com maioria na Câmara de Vereadores, pretende ampliar a parceria com o governo do Estado para a realização de obras de infra-estrutura, além de estender programas sociais, como os de saúde voltados para a população de baixa renda. Embora aparentemente esteja tudo bem, João Paulo reconhece que alguns problemas, como a dívida municipal, podem atrapalhar a sua segunda gestão. Um outro plano, o da reforma administrativa, no momento parado, também tem incomodado aliados e opositores. De acordo com o prefeito, em qualquer governo a casa nunca está arrumada, mas está sempre se arrumando", mas como ele impôs sua marca durante a primeira gestão, o ritmo de trabalho não teria sido muito afetado. "A equipe está mais madura após quatro anos. Portanto temos condições de ter um desempenho maior de governo do ponto de vista administrativo. Quanto à capacidade de investimentos aí se dá a questão dos limites orçamentários. Mas usando a criatividade e capacidade de articulação com o governo estadual e federal, temos perspectivas melhores que no início da primeira gestão", afirma.

Parte das expectativas desta segunda gestão estão depositadas em várias das ações desenvolvidas ao longo do primeiro mandato. Como exemplo, ele cita a melhoria na áreas de educação, saúde e defesa civil. Somente na área educacional foram contratados 2 mil novos professores e construídas 50 novas unidades de ensino. A retirada das palafitas do bairro de Brasília Teimosa, Beira Rio e Vila Vintém, e a inserção de quatro mil famílias no auxílio moradia também são citadas pelo prefeito como pontos importantes e que devem ser consolidados nesta segunda administração: "Pretendemos aprimorar ainda mais a qualidade dos nossos serviços. Os avanços do nosso governo têm crescido muito a partir do apoio do governo federal". Entre as metas previstas para a melhoria do serviço público estão a ampliação do Programa de Saúde da Família (PSF) dentro dos limites orçamentários, o aumento do número de atendimentos dos serviços odontológicos, a universalização da educação municipal e a agilização de projetos com recursos já assegurados como o Prometropóle (na área de saneamento e requalificação urbana) e o Capibaribe Melhor, a Via Mangue (via expressa ligando a Zona Sul ao centro), a contenção do avanço do mar e promover melhorias no trânsito e garantir a pluralidade cultural da população recifense. Em termos políticos, João Paulo acredita que as rusgas junto ao governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) foram superadas e as parcerias serão mantidas e, se possível, ampliadas. "O que existe muito é futrica, intriga", garante. Apesar de reafirmar que o relacionamento é meramente institucional, João Paulo vem recebendo críticas de partidários e aliados em função desta aproximação. O prefeito defende-se alegando que esta proximidade é apenas na esfera administrativa e que nada tem de ideológica. "Em Pernambuco existe um clima de antecipação eleitoral impressionante", diz. Esta antecipação eleitoral tem levado a alguns desgastes inesperados como um bate-boca dos últimos dias entre o deputado federal Armando Monteiro Neto (PTB) e o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos (PSB), em relação à unidade das esquerdas para a sucessão estadual. O início da segunda gestão também vem sendo marcado por denúncias. A bancada de oposição na Câmara - que neste segundo mandato está mais articulada e atuando em conjunto - apontou irregularidades em uma dispensa de licitação orçada em R$ 490 mil, na Secretaria de Educação, além de uma denúncia de gasto indevido do dinheiro público em compras cujas notas fiscais apresentavam itens como cerveja, cachaça e touca de banho. "A antecipação faz com que apareçam denúncias desqualificadas com a perspectiva de gerar desgaste. Mas eu acho que a sociedade já percebeu esta movimentação e acredito que elas não tenham sustentabilidade política", minimiza. Outros pomos de discórdia devem surgir em breve. A prefeitura deve enviar ao Legislativo alguns projetos considerados polêmicos como a revisão do Plano Diretor da cidade, a reforma administrativa e algumas alterações na Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana. O projeto que mais deve causar barulho é o da reforma administrativa. Segundo o prefeito, serão feitas adequação de cargos e de funcionamento, já que hoje existiriam sobreposição de ações e alguns projetos não estariam vinculados às secretarias de origem. João Paulo também diz que dentro desta reforma, está a idéia de substituir os secretários adjuntos por um quadro executivo, técnico. "Os secretários adjuntos não teriam a função da representação política. Quem comanda política é o secretário. É uma atitude ousada e não acho que isso vá criar problemas políticos mais à frente", acredita. No momento, a grande preocupação é a dívida municipal. Atribuindo boa parte da dívida à gestão anterior do ex-prefeito Roberto Magalhães, que não teria saldado uma série de débitos trabalhistas, João Paulo diz que somente com o INSS a dívida alcança R$ 350 milhões. "Na nossa gestão temos pago os débitos. Nos últimos quatro anos pagamos mais de R$ 100 milhões referentes à nossa administração. Estamos tentando renegociar este débito que entre INSS, FGTS, Cofins, salário-educação e operações de crédito totaliza R$ 523,1 milhões. Se isso não for equacionado teremos problemas mais à frente", explica. Segundo ele, um documento será entregue ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, detalhando o problema e solicitando que o pagamento seja feito em até 100 anos. Pelo tamanho da dívida e com a crescente insatisfação de alguns aliados, a segunda gestão petista consecutiva no Recife pode vir a ser seriamente comprometida, o que pode frustrar os planos do PT de fazer o sucessor do governador Jarbas Vasconcelos. (PE)