Título: Luizianne faz parcerias com MST e Caracas
Autor: Paulo Emílio
Fonte: Valor Econômico, 06/04/2005, Política, p. A6

Considerada o patinho feio na corrida eleitoral, Luizianne Lins não teve o apoio nem mesmo do seu partido, o PT, durante o primeiro turno. Ainda assim venceu e tão logo que assumiu a Prefeitura de Fortaleza, deflagrou uma operação de limpeza de ruas, canais e galerias, com o apoio de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Em menos de quinze dias de mandato ela decretou o estado de emergência alegando que a administração municipal seria obrigada a paralisar vários serviços essenciais que eram feitos na gestão anterior de forma terceirizada. No segundo mês à frente do Executivo, Luizianne enfrentou uma ameaça de greve geral além de firmar uma parceria com o presidente venezuelano Hugo Chávez para promover o intercâmbio de experiências entre as cidades de Fortaleza e Caracas. Como em várias outras capitais, a dívida municipal também é uma fonte de preocupações nestes primeiros 100 dias de gestão. Foto: Diário do Nordeste

MST varre as ruas de Fortaleza: cerca de 500 voluntários participaram da limpeza e levantaram temores na população de que acampassem na cidade O início da gestão foi marcada por uma ação que dividiu os moradores da capital cearense. Batizada de Fortaleza Bela, a operação - ainda em andamento - visava promover a limpeza urbana e a desobstrução de rios, canais e galerias, antes do período chuvoso. Diversos universitários e cerca de 500 integrantes do MST se ofereceram para ajudar na realização dos serviços e foi aí que surgiram as primeiras críticas. Havia o temor por parte de uma parcela da população que o MST terminasse por acampar definitivamente o centro da cidade. Muito embora isto não tenha acontecido, Luizianne já anunciou que a operação será mantida durante toda a sua gestão. "A Operação Fortaleza Bela foi uma bandeira de campanha e consideramos um grande acerto. Em 60 dias, todas as metas foram cumpridas e muitas até superadas. Não se tratava de uma jogada de marketing. Foi uma operação emergencial e necessária para deixar a situação menos dramática com a chegada do inverno que se aproximava", diz. Poucos dias depois de anunciar a operação Fortaleza Bela, Luizianne declarou o estado de emergência na cidade por um período de 120 dias. Segundo ela, a máquina pública estava programada para parar no último dia antes do início da sua gestão. "Assumimos a administração da cidade com tudo preparado para parar, para Fortaleza ficar sem seus serviços essenciais, como saúde, educação e coleta de lixo, porque todos os contratos com prestadores de serviços venceram no dia 31 de dezembro. Então a Procuradoria Geral do Município e o Tribunal de Contas do Município nos sinalizaram positivamente e nós decretamos estado de emergência para possibilitar mais agilidade na contratação desses serviços essenciais", explica. Luizianne afirma que 70% dos prestadores de serviços estão localizadas em áreas estratégicas como Educação e Saúde. Diante do quadro encontrado ela não perdeu tempo em anunciar que iria promover uma reforma administrativa extinguindo ou fundindo algumas pastas e criando duas novas, Turismo e Cultura. Até o momento o assunto ainda não saiu do papel e esta indefinição tem sido alvo de críticas por parte de alguns aliados que apesar de tudo permanecem unidos garantindo uma maioria favorável da bancada na Câmara. A manutenção de apadrinhados políticos do ex-prefeito Juraci Magalhães em cargos de segundo e terceiro escalão também tem sido outro ponto de discórdia. Sobre este assunto Luizianne diz apenas que as nomeações acontecerão em breve. Esta indefinição e a situação que ela diz ter encontrado - segundo a prefeita a dívida municipal chega a R$ 236 milhões - levaram ao atraso de salários dos funcionários públicos. A prefeitura somente abriu o diálogo após uma ameaça de greve geral. Parte dos funcionários do serviço de limpeza urbana cruzaram os braços. Sob pressão, foi montado um calendário de pagamento que pôs fim à querela administrativa. A prefeita também negociou débitos com distribuidoras de combustíveis e vem pedindo para que o governo federal renegocie os débitos municipais.