Título: Presidência do Itaú BBA passa por renovação
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 06/04/2005, Finanças, p. C8

O banqueiro Fernão Bracher anunciou ontem que vai deixar a presidência executiva do Banco Itaú BBA no final do mês. Bracher ficará apenas no conselho e será substituído por seu filho, Cândido Bracher, que atualmente é diretor superintendente. A mudança tem o apoio do presidente do Banco Itaú Holding Financeira, Roberto Setubal, embora não estivesse prevista quando o BBA se associou ao Itaú e se tornou seu braço de banco de atacado e de investimento, em novembro de 2002. "O banco cresce, matura e exige novas técnicas bancárias. Os mais moços é que têm de fazer isso. Hoje eu não estou mais adiante dos outros. Não estou dizendo que não valho nada. Continuo no conselho de administração para ver o negócio vai", justificou Bracher, que completou 70 anos domingo. Advogado de formação, Bracher começou a trabalhar na área financeira em 1961, aos 26 anos, no Banco da Bahia, adquirido em 1973 pelo Bradesco. Bracher passou para o Bradesco, cuja área internacional chegou a comandar. Entre agosto de 1985 a fevereiro de 1987, presidiu o Banco Central (BC), no governo de Sarney. No ano seguinte, fundou o BBA, emprestando-lhe uma das letras B do nome. O outro B é de Beltran Martinez, companheiro de Bradesco; e o A, é de Pérsio Arida, que foi um dos homens de sua diretoria no BC e depois deixou a sociedade. O BBA foi um dos raros bancos nascidos no boom de 1988 que deu certo no ambiente hostil da inflação elevada e da instabilidade econômica, a ponto de atrair o respeito e o interesse do gigante Itaú. Prova disso é que os principais executivos do BBA têm poder de voto na sociedade. Mas, agora, Bracher reconhece que o mercado está mais complexo e exige sangue novo. Economista formado na FGV de São Paulo, 46 anos, Cândido concorda. "À medida que a economia se estabiliza, aumentam os desafios", disse. A estabilização, explicou, mudou o cenário dos negócios com as grandes empresas. Ao mesmo tempo em que diminuiu a demanda pelo crédito tradicional, aumentou a procura pelas operações de mercado de capitais. O ganho dos bancos de atacado com spread foi substituído pelas comissões. O desafio, disse, é compensar a perda de algumas receitas pelo aumento da venda de outros produtos, inclusive os sofisticados derivativos. Como se isso não bastasse, os grandes nomes internacionais renovaram o interesse pelos negócios no Brasil. Cândido começou a trabalhar no mercado financeiro em 1981, aos 22 anos, no Swiss Bank Corporation. Depois, no Banco Bahia de Investimento (atual Banco BBM); comandou o Badesp no governo paulista de Franco Montoro; e trabalhou durante 1987 no Banco Itamarati, do ex-rei da soja, Olacyr de Moraes, quando então aceitou um "salário menor" para ajudar o BBA a decolar, lembrou o pai. Foi já sob a inspiração de Cândido que o Itaú BBA, no mês passado, reforçou a equipe de banco investimento com a contratação de três executivos do suíço UBS, com experiência em lançamentos de ações e bônus, fusões e aquisições. Setubal considera tendência natural as grandes empresas substituírem os empréstimos tradicionais por captações no mercado, com a emissão de ações ou debêntures, o que acaba levando a uma migração de clientes do Itaú para o Itaú BBA. Fernão Bracher afirmou que pretende dedicar o tempo livre que terá a projetos sociais como as atividades pedagógicas na periferia da cidade.