Título: Camex descarta salvaguardas contra China "por enquanto"
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2005, Brasil, p. A3

O descompasso entre as importações brasileiras de produtos chineses - que cresceram 54% nos dois primeiros meses em comparação aos mesmos meses de 2004 - e as vendas para aquele país, que cresceram só 4,4%, "acenderam o sinal amarelo" no governo, mas ainda não são suficientes para motivar a equipe econômica a criar salvaguardas (barreiras à entrada) para mercadorias chinesas, afirmou ao Valor o secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Mário Mugnaini. O crescimento nas importações se deve principalmente à compra de componentes eletrônicos de celulares que são exportados em grande quantidade, argumentou. Ele negou que a Camex pretenda discutir o assunto na próxima reunião, apesar do grande número de queixas do setor privado, principalmente do setor têxtil e da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (FIesp). Mugnaini comentou que "por enquanto" não há indicações de aumento nas compras de bens chineses além de um crescimento "gradual". As estatísticas do Ministério do Desenvolvimento mostram que o grande crescimento das importações de produtos chineses aconteceu entre janeiro a julho do ano passado, quando aumentaram cerca de 65%. As importações totais da China vêm caindo desde novembro, um comportamento que se repete todos os anos. Em fevereiro, as compras de produtos daquele país ficaram em US$ 324 milhões, menor valor mensal desde junho de 2004. Há forte pressão de importações, porém, em alguns setores, que estão sendo monitorados, informou Mugnaini. "As compras do setor automotivo começam a nos preocupar", admitiu. Segundo um assessor do governo, na última reunião de ministros da Camex, chegou a ser mencionada a demanda por salvaguardas contra os chineses, mas a falta de consenso levou as autoridades a decidir que a Camex não tratará do tema em sua próxima reunião. Tanto o Ministério das Relações Exteriores quando o da Fazenda são contrários à idéia de criar barreiras ao comércio com os chineses. Sobre as queixas dos empresários, de que o Brasil, ao reconhecer a China como "economia de mercado" perdeu a capacidade de levantar barreiras a produtos exportados pela China em regime de dumping (abaixo do preço normal), Mugnaini lembrou que o governo ainda não regulamentou esse reconhecimento. O Brasil está acompanhando a realização de compromissos assumidos pela China, como a compra de 10 aviões da Embraer por ano, a derrubada de barreiras não-tarifárias a carnes e soja brasileiras e as promessas de investimentos como a construção do gasoduto do Nordeste. Só após a confirmação de boa parte desses compromissos, a Camex decidirá sobre a regulamentação da China como "economia de mercado", que a põe a salvo de barreiras comerciais discricionárias pelo Brasil.