Título: Eunício vence disputa e mantém Gurgel na presidência da Anatel
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2005, Brasil, p. A8

O engenheiro e coronel da reserva Elifas Gurgel do Amaral foi nomeado ontem presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), cargo que ocupava interinamente desde janeiro. A efetivação de Gurgel contrariou parte do governo, desapontou muitos funcionários da própria agência e é vista com cautela pelo setor privado. A escolha representa uma importante vitória pessoal do ministro das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Gurgel é ligado ao partido e, principalmente, a Eunício, seu conterrâneo e principal defensor. No início do ano, o ministro indicou três nomes ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva: além de Gurgel, o engenheiro em telecomunicações José Leite Pereira Filho e o engenheiro eletrônico Plínio Aguiar Júnior - todos conselheiros da Anatel. Mas, desde o começo, trabalhou nos bastidores pela indicação de Gurgel. Aguiar foi descartado rapidamente no processo de sucessão para o comando da agência reguladora. Eunício ficou praticamente sozinho no lobby por Gurgel. Os ministros Antonio Palocci (Fazenda) e, principalmente, José Dirceu (Casa Civil) defendiam a nomeação de Leite. As operadoras de telefonia tinham, em grande parte, a mesma preferência. Os petistas com trânsito no Palácio do Planalto passaram a argumentar que Leite representava, para a Anatel, uma solução "a la Kelman". Eles faziam referência à indicação do hidrólogo Jerson Kelman à direção-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), num momento em que parte dos órgãos reguladores foi loteada a políticos e candidatos derrotados do PT nas eleições. De perfil técnico e ex-diretor-presidente da Agência Nacional das Águas, Kelman conhece o setor elétrico e foi bem recebido pelo mercado. Leite faz parte do primeiro grupo de conselheiros da Anatel e entrou na agência em 1997, por indicação do então ministro Sérgio Motta. Reconduzido ao cargo em 2002, por mais cinco anos, tinha excelente trânsito com os superintendentes e funcionários. A experiência de Leite no ramo - foi conselheiro da União Internacional de Telecomunicações (UIT), principal organização da área - levava seus defensores a dizer que ele era naturalmente a "bola da vez" no processo de sucessão da Anatel. Um alto executivo do setor de telefonia móvel afirmou, pedindo anonimato, que Leite traria mais previsibilidade na condução da agência. Eunício ganhou a disputa porque o presidente Lula avaliou que, ao se reaproximar da ala oposicionista do PMDB, após a limitada reforma ministerial, não teria como negar o pedido do político que mais tem ajudado, dentro do seu partido, o Palácio do Planalto. Gurgel, 49 anos, é graduado em engenharia da computação e fez carreira militar. Foi subgerente de projetos especiais do Ministério da Defesa e trabalhou na implantação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). Atuou como consultor de segurança para o Banco do Nordeste. Quando Eunício assumiu o Ministério das Comunicações, tornou-se secretário de serviços de comunicação eletrônica da pasta. O novo presidente da Anatel já era conselheiro da agência desde novembro do ano passado. Em janeiro, com o fim do mandato de Pedro Jaime Ziller, Gurgel foi nomeado para a presidência interina. Desde então, deflagrou uma vasta operação de fiscalização sobre as operadoras de telefonia celular. Apertou o cerco às empresas, alegando que o ritmo de melhoria dos serviços de atendimento não acompanhava o "boom" de vendas de aparelhos. Executivos do setor e funcionários da Anatel dizem ter encontrado boa interlocução com Gurgel e grande disposição por parte dele em inteirar-se rapidamente sobre os assuntos do setor. No entanto, eles demonstram cautela com a experiência ainda limitada do ex-secretário. Pelo decreto assinado por Lula, o novo presidente da Anatel ficará no cargo até 3 de novembro de 2005. O período é relativamente limitado, porque o mandato apenas completa o do ex-conselheiro Luiz Guilherme Schymura, que renunciou. Mas o mandato é renovável. Há possibilidade de recondução à presidência e o setor dá como quase certo que isso acontecerá.