Título: Produção industrial cai em fevereiro e reforça acomodação
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2005, Brasil, p. A10
A produção física da indústria brasileira voltou a desacelerar pelo segundo mês consecutivo. Em fevereiro, conforme dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a atividade industrial caiu 1,2% ante janeiro. Na comparação com fevereiro de 2004, cresceu 4,4%. No acumulado do bimestre, subiu 5,2% na comparação com o ano passado e na taxa de 12 meses acumula alta de 8,6%. A indústria foi puxada pelos bens de consumo, sinalizando novo perfil da indústria este ano. Na margem, os bens duráveis cresceram 11,8%, enquanto os bens de capital declinaram 3,1%, os intermediários recuaram 1,2% (por conta de paradas técnicas de refinarias da Petrobras, reduzindo a produção de derivados) e os semi e não-duráveis tiveram diminuição de 4,6%. No confronto com fevereiro de 2004, os bens duráveis cresceram 22,4% e os não-duráveis, 5,3%. Já os bens intermediários e os bens de capital expandiram-se 1,1%, respectivamente. Nessa base de comparação, o IBGE levantou que os bens de capital para indústria - sob encomenda e seriados - continuaram crescendo 11%, na média, o que não ameaça os investimentos, pelo menos no curto prazo. Sílvio Sales, coordenador da área de indústria do IBGE, o quadro da indústria é de estagnação, já que a média móvel trimestral apresentou desempenho negativo de 0,1%. Ele alertou, porém, que as bases de comparação com o ano anterior também estão em desaceleração. No primeiro trimestre de 2004, ante o mesmo período de 2003, a indústria cresceu 6,1%; no segundo trimestre na mesma base de comparação, 10%; no terceiro, 10,3%; no quarto trimestre, 6,6%, e no primeiro bimestre de 2005, ante 2004, 5,2%. Estevão Kopschitz, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) constatou que o setor de bens duráveis de fato cresceu bastante, amparado em celulares e automóveis, aquecido pelo crédito consignado e exportações. Os bens intermediários foram puxados para baixo por causa das refinarias de diesel, mas os semi e não-duráveis, que vinham crescendo, tiveram queda forte. Para o economista do Ipea, a queda da produção de máquinas e equipamentos pode vir a prejudicar o investimento. No ano passado, a taxa de investimento chegou a 19,6% do PIB, e este ano o Ipea prevê uma taxa de 20,7% do PIB. Para Kopschitz, o juro alto influenciou o comportamento da indústria, principalmente de bens de capital. "A política monetária é sempre efetiva", considerou. Ele lembrou que as vendas da CNI também mostraram um quadro de desaceleração. O Ipea trabalha este ano com uma projeção para o crescimento da indústria de 4,6%. Para o primeiro trimestre, de 7,6%. Mas, Kopschitz acredita que, com o acumulado de 5,2% no bimestre, será necessário a indústria crescer, na comparação mensal de março ,12,5% para chegar lá. Dificilmente isto ocorrerá, avalia. O que poderá, a seu ver, influir no comportamento do PIB. Para o PIB do primeiro trimestre, o Ipea projeta taxa de 0,8% na comparação com o último trimestre do ano passado. Para o ano, projeta 3,5%. "Os dados da indústria, porém, deixam dúvida quanto a essas estimativas. Certamente estamos mais próximos de um PIB anual de 3,5% do que de 4%". O diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, considera que a indústria já está estagnada. "O boom industrial brasileiro do ano passado já ficou para trás", declarou. Para provar sua tese, Almeida tomou como exemplo a trajetória da produção industrial nos últimos 12 meses, na série dessazonalizada. Seus cálculos informam que no semestre mais recente, entre os meses de setembro/ 2004 a fevereiro/ 2005, a indústria registrou queda de 1%. Nesse período, a indústria de bens de capital declinou 5,3%, bens intermediários caíram 3%, enquanto os bens duráveis cresceram 7% e os semiduráveis, 4%. Já no semestre que vai de março a agosto de 2004, houve expansão acumulada de 6,6% na atividade fabril. No período, os bens de capital cresceram 10,4%, os intermediários 6,2% e os semi e não-duráveis, 2,2%.