Título: Ritmo da atividade desacelera-se no 1º tri
Autor: Raquel Salgado e Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2005, Brasil, p. A11
Indicadores da indústria e do comércio mostram que a atividade econômica desacelerou-se no primeiro trimestre do ano em relação ao fim de 2004. Para empresários e economistas, isso reflete, em boa parte, a alta dos juros iniciada em setembro, embora também haja uma acomodação natural da economia, o que era esperado após o forte crescimento do ano passado. O movimento só não é mais intenso devido ao desempenho surpreendente das exportações. Ainda assim, os números mostram expansão na comparação com o mesmo período de 2004. Na indústria de plásticos, há empresas que verificaram queda de até 35% na produção em relação ao quarto trimestre de 2004, segundo Merheg Cachum, presidente da Abiplast, associação que representa o setor. A exceção são indústrias que fornecem produtos para o segmento automotivo, que têm apresentado resultados recordes nas vendas externas. "Até quem fornece para quem produz duráveis, como eletrodomésticos, está indo mal." O setor siderúrgico também não caminha na mesma toada do ano passado. Pelas previsões de Carlos Loureiro, diretor-presidente da Rio Negro, do grupo Usiminas, baseada em dados do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), a quantidade de aço plano entregue pelas usinas no primeiro trimestre deve cair 16% em relação aos últimos três meses de 2004. A produção deve ficar em 601 mil toneladas, contra 609 mil do período anterior. "As empresas de máquinas e equipamentos agrícolas estão comprando apenas 10% da quantidade de aço que adquiriram no final do ano passado", comenta Loureiro. Ele explica que, naquele período, muitas indústrias compraram aço com medo do aumento de preços. Agora estão estocadas e com poucas encomendas novas, "devido à acomodação da economia doméstica". Em contrapartida, as autopeças e a indústria de máquinas em geral têm mantido a procura pelo produto. O presidente da indústria São Roberto, Roberto Nicolau Jeha, diz que o setor de papelão ondulado também vive um momento de desaceleração. No primeiro trimestre, as vendas de sua empresa caíram 9% em relação ao quarto trimestre do ano passado. Segundo ele, é normal que haja uma queda nesse período por motivos sazonais, mas a questão é que o recuo foi maior que os 5% esperados. Para Jeha, a alta dos juros iniciada em setembro já começa a causar estragos. "Nesse cenário, muitos empresários acabam por reduzir o ritmo de investimentos". Ele mesmo decidiu colocar o pé no freio. Em vez de concluir a ampliação da fábrica em meados deste ano, deve fazê-lo em meados de 2006. O setor têxtil é outro que nota uma desaceleração. Segundo o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, a combinação de juros altos, valorização do câmbio e forte crescimento da importação de produtos chineses afeta o segmento. Pimentel diz que nos 12 meses terminados em março o setor têxtil acumulou crescimento de 10%, uma desaceleração em relação aos 12% a 13% observados durante os melhores momentos do ano passado. Na indústria química, as vendas internas crescem a um ritmo modesto, mas as exportações mostram um desempenho bastante positivo. O vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Guilherme Duque Estrada Moraes, estima que as vendas no mercado doméstico de janeiro a março cresceram 2% em relação ao mesmo período do ano passado. As exportações, por sua vez, devem ter crescido 15%. Os juros altos são uma explicação possível para o desempenho mais fraco das vendas internas, afirma ele. No comércio, também há sinais de um crescimento menos robusto, segundo o economista Adriano Pitoli, da Tendências. No primeiro trimestre, as consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e ao Usecheque caíram 2,5% em relação ao quarto trimestre do ano passado, em termos dessazonalizados. A expansão continua, mas o ritmo é mais fraco, diz Pitoli. Os economistas são menos pessimistas que os empresários. Sérgio Vale, da MB Associados, ainda aposta na estabilidade da produção industrial no período janeiro- março, em relação ao trimestre anterior, a despeito da queda do indicador registrada em fevereiro, de 1,2% em relação a janeiro, em termos dessazonalizados. Para ele, a queda de 4,3% da produção de bens semi e não-duráveis em fevereiro é um ponto fora da curva. O segmento deve se recuperar nos próximos meses, com a expansão da massa salarial. Um ramo da indústria que ainda não se mostra tão afetado é o de alimentação e, por conseqüência, o de embalagens para acondicioná-los. O diretor econômico da Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia), Denis Ribeiro, diz que até fevereiro o indicador de produção acumulado em 12 meses cresceu 5,5%, acima dos 4,9% e 4% apurados em novembro e dezembro passados. "Estamos num nível elevado de produção, ainda mais para um começo de ano." A perspectiva é que o setor não sofra uma queda em março, mas o crescimento em 12 meses deve se estabilizar entre 4% e 4,5%. Na indústria de embalagens, "a atividade está bastante aquecida", segundo Fábio Mestriner, presidente da Abre. Em março, o nível de utilização da capacidade instalada ficou em 86,3%, levemente abaixo do 86,6% de dezembro. "É um número alto especialmente para o primeiro trimestre, que costuma ser fraco no nosso setor."