Título: Com Ciro, PSB pode escapar da cláusula de barreira e ter opção no Rio
Autor: Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2005, Política, p. A15

Estão avançadas as negociações para a filiação do ministro Ciro Gomes, da Integração Nacional, ao PSB. Ontem, Ciro iniciou contatos com deputados do PPS que tendem a segui-lo na decisão de mudar de partido. Pelo menos uma senadora - Patrícia Gomes, do PPS do Ceará - deverá acompanhar Ciro. A expectativa é que, no prazo de 20 a 30 dias, o ministro conclua o processo de consultas e formalize sua transferência para o PSB. A situação de Ciro no PPS tornou-se insustentável desde que a Executiva do partido, sob a liderança de seu presidente nacional, deputado Roberto Freire (PE), decidiu romper com o governo Lula e exigir que os filiados de sua sigla entregassem os cargos que possuem no governo federal. Em fevereiro, o PPS aprovou o desligamento de Ciro e Patrícia, proibindo-os de falar em nome do partido ou de representá-lo. Há cerca de 40 dias, o presidente nacional do PSB, deputado Miguel Arraes (PE), conversou com Ciro. No encontro, não houve um convite formal, mas serviu para pavimentar uma aproximação entre os dois líderes políticos - no passado, Arraes nutriu resistências a Ciro. Depois dessa conversa, Eduardo Campos (ministro da Ciência e Tecnologia) e Renato Casagrande (líder do PSB na Câmara dos Deputados) passaram a trabalhar pela filiação de Ciro. Na segunda-feira da semana passada, Arraes tratou do assunto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No encontro, o presidente do PSB explicou a Lula que seu partido está se esforçando para passar a chamada cláusula de barreira. Em 2006, segundo a legislação vigente, os partidos terão que alcançar pelo menos 5% dos votos nacionais, do contrário, não terão direito, por exemplo, a possuir líder na Câmara ou tempo para discursos no plenário. A ida de Ciro Gomes ajudaria o PSB a superar a cláusula de barreira. Ciro tem densidade eleitoral. Além disso, sua filiação pode levar, num primeiro momento, cinco ou seis deputados do PPS para o PSB, que hoje tem 16 deputados federais (um a menos que o PPS). Existe a expectativa de que, mais adiante, outros parlamentares do PPS optem pelo PSB. Se confirmar a filiação, Ciro receberá tratamento VIP do PSB. Como não é candidato à presidência em 2006, poderá optar pela disputa ao governo do Rio de Janeiro ou credenciar-se a ser vice na chapa de Lula. No primeiro caso, ele preencheria uma lacuna tanto do PSB quanto do PT no Rio, onde os duas siglas estão frágeis. Interessa a Lula ter Ciro no Rio para enfraquecer Anthony Garotinho (PMDB), desafeto do presidente e possível adversário na disputa pela reeleição. Ciro, segundo fontes ouvidas pelo Valor, quer distanciar sua decisão de filiação ao PSB do troca-troca partidário que vem ocorrendo nas últimas semanas. Ele pretende categorizar seu movimento com um "conceito" político. É provável que, quando oficialize a mudança, divulgue um documento explicando suas razões e a de seus correligionários. Antes de anunciar sua decisão, o ministro pretende conversar com os partidos que também lhe abriram as portas - PTB, PDT e PMDB. Desde o início das negociações para a saída de Ciro do PPS, considerou-se que o governador do Amazonas, Eduardo Braga (PPS), seguiria seus passos. Braga, no entanto, está com um pé hoje no PMDB. As conversas estão adiantadas. O governador gostaria de entrar no novo partido já como seu presidente regional. O problema é que o estatuto do PMDB determina que a presidência só pode ser ocupada por políticos com pelo menos seis meses de filiação. Uma exceção pode ser admitida, na medida em que Garotinho entrou para o partido e assumiu imediatamente o seu comando no Rio. O atual presidente do PMDB do Amazonas é o senador Gilberto Mestrinho. As negociações para a filiação de Braga estão sendo intermediadas pelo próprio Mestrinho e pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).