Título: Paulista planta uva no Nordeste
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2005, Especial, p. A18

O paulista Orlando Castro da Cruz, 53, quatro filhos, um dos pequenos irrigantes do Distrito Nilo Coelho fez o fluxo migratório ao contrário. Ex-motorista de ônibus e ex-plantador de tomate em Ribeirão Preto, onde nasceu, chegou a Petrolina em 1984 para plantar tomate nas terras do irmão que, na época, trabalhava na Cica. "Em 1995 comprei um lote de 14 hectares, sendo 6,5 de área irrigável. Tenho 6,5 hectares de uva. Aqui no Nordeste é possível colher até duas e meia safras por ano, mas pelo manejo temos duas safras", disse. O maior período de insolação permite colher duas safras por ano no Nordeste, ao contrário do resto do mundo. "Hoje tenho lote, caminhão, trator, automóvel, máquinas agrícolas e casa própria. O que se enquadra no padrão do agricultor eu consegui", conta orgulhoso. Segundo ele, trabalham no seu lote de 20 a 40 pessoas, dependendo da época do cultivo. Os períodos que exigem mais de mão-de-obra são os da colheita e o do raleio (retirada dos excessos de bagas dos cachos). Apenas quatro empregos são formais. Cruz avalia que seu parreiral rende 40 toneladas/ano de uvas, vendidas a um preço médio de R$ 2 o quilo. Nos 6,5 hectares, permite uma renda bruta de R$ 520 mil, com despesas de 40%. Os trabalhadores temporários ganham por produção. Lúcia Maria de Macedo, 40, trabalha no raleio das uvas por R$ 0,04 por cacho. Precisa ralear 500 cachos para ganhar R$ 20 por dia. Folgando apenas no domingo, pode ter renda de R$ 120 por semana. "Antes eu plantava arroz e feijão e milho de meia (dividindo a produção com o dono da terra). Mas era quando tinha marido (ele foi embora). Sozinha, prefiro ralear uva", disse. Já o casal Manoel Cândido e Maria de Fátima dos Santos estava mais feliz. Juntos haviam raleado 1.170 cachos, o que deu um ganho de R$ 46,80. E ainda aguardavam a apuração do trabalho do filho Antônio, de 16 anos, que parou de estudar na 5ª série. "Mesmo assim, a gente vive aperreado. Tá tudo muito caro", lamenta Manoel. (CS)