Título: Uso do rio traz emprego e cria pólo de exportação
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2005, Especial, p. A18
A abundância de água para irrigação está inegavelmente transformando a vida para muito melhor em pelo menos uma parte do semi-árido brasileiro, a região do submédio São Francisco, que tem como centro as cidades de Petrolina (em Pernambuco, a 767 km de Recife) e Juazeiro (na Bahia, a 508 km de Salvador), separadas apenas pelas águas do rio. Segundo dados da Associação dos Produtores Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco (Valexport), a produção de frutas como manga, uva, melão, mamão, banana, goiaba e outras alcança cerca de um milhão de toneladas por ano. Somente com exportações de manga e de uva, a região faturou em 2003 um total de US$ 127 milhões, quase a totalidade das exportações nacionais das duas frutas - US$ 133 milhões no mesmo ano. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento. Apenas seis anos antes, em 1997, as exportações de manga e de uva do São Francisco somavam apenas US$ 23,3 milhões. Petrolina e Juazeiro, juntas, somavam 393,1 mil habitantes no Censo de 2000, com um aumento de 29% sobre a população apurada no Censo de 1991 (304,2 mil). O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Petrolina em 2000 era de 0,748 (bem próximo ao IDH brasileiro de 0,771), com uma evolução de 11,8% em dez anos. Em Juazeiro, o IDH era bem inferior, de 0,683, mas com melhora de 15,9% no mesmo período. Calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o IDH leva em conta aspectos de educação, longevidade e renda e varia de zero a um. Quanto mais perto de um, melhor. De acordo com os dados da Valexport, existem hoje no submédio São Francisco aproximadamente 120 mil hectares de culturas irrigadas. Além de frutas , as culturas incluem cana-de-açúcar e hortaliças, como tomate e cebola. Baseada em um cálculo de dois empregos por hectare cultivado, a entidade avalia que a hortifruticultura irrigada está gerando cerca de 240 mil empregos em toda a região. Em Juazeiro e Petrolina, a área irrigada atual é de aproximadamente 40 mil hectares. Segundo Alfredo Garcez Neto, gerente-executivo do Distrito de Irrigação Senador Nilo Coelho, somente dentro daquele projeto - o maior hoje totalmente implantado no Brasil, com cerca de 20 mil hectares irrigáveis no município de Petrolina - moram 38 mil pessoas. O dado, segundo ele, é da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf). Garcez disse que trabalho feito pelo Banco Mundial (Bird) estimou que o projeto Nilo Coelho gera 50 mil empregos diretos e indiretos. Na avaliação do Distrito de Irrigação, que ele dirige, o número de empregos alcança 80 mil. Criado nos anos 80, o projeto Nilo Coelho movimentava em 2001 cerca de R$ 1,8 bilhão, segundo o trabalho do Bird citado por Garcez. Segundo o gerente, cada emprego no setor exige investimento de US$ 5 mil a US$ 6 mil. Já em setores tradicionais, como turismo, metalurgia e indústria automobilística, o investimento necessário é de 18 até 44 vezes maior. Sozinho, o projeto Nilo Coelho consome 23 m³/s de água, que é praticamente toda a quantidade que sairá pelos dois canais da transposição do São Francisco em situação normal (26m³/s). De acordo com Garcez, somente em 40% da área são utilizadas as técnicas de irrigação mais modernas e econômicas, que são a de microaspersão (borrifamento por meio de pequenos pivôs ligados a mangueiras) e a de gotejamento (mangueiras especiais pingam em intervalos regulares gotas d'água direto nas raízes das plantas).