Título: Indústria fraca impõe fim ao aperto do BC
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2005, Finanças, p. C2

Mais fraca do que o mercado previa, a atividade industrial levará o Banco Central a encerrar este mês o aperto monetário iniciado em setembro. Se a série de sete altas da Selic, empurrando a taxa de 16% para 19,25%, não teve impacto retumbante sobre a inflação, conseguiu desacelerar a produção da indústria a um nível já considerado preocupante. A maior parte dos analistas esperava para o mês de fevereiro um crescimento modesto na produção industrial, e não uma baixa. Não só caiu, como a queda foi significativa. A indústria cedeu 1,2% em fevereiro comparativamente a janeiro, e janeiro já tinha sido 0,6% mais fraco que dezembro. O arrocho monetário de 3,25 pontos percentuais pode ter evitado um descontrole inflacionário já na largada do ano, mas seus efeitos perversos sobre a atividade recomendam uma imediata moderação. Os dados do IBGE comprovam que os canais de transmissão da política monetária persistem desobstruídos e eficientes. O problema inflacionário resulta hoje da indexação tarifária e dos choques de oferta, como a agrícola. Não adianta o Copom continuar subindo a taxa básica. Os dados comprovaram também o acerto do deslocamento da mira inflacionário do BC para o período de 12 a 18 meses à frente, e não mais o ano-calendário de 2005. Foi por tudo isso que os juros caíram ontem acentuadamente no mercado futuro da BM&F.

Dólar tem nona baixa e ignora caso Meirelles

A projeção de CDI para a virada do mês - o contrato mais curto que tem a missão de refletir as apostas para a próxima reunião do Copom, dia 20 - cedeu de 19,31% para 19,29%. Nesse patamar o pregão ainda abre uma fresta à possibilidade de um avanço de 0,20 ponto da Selic. Mas até o dia 20, se não houver surpresa muito desagradável em relação ao IPCA fechado de março, que o IBGE irá divulgar amanhã, o contrato recuará até espelhar a aposta de manutenção do juro básico. Para a virada do semestre, o prognóstico do mercado futuro retrocedeu de 19,53% para 19,46%. A queda para a virada do ano foi mais expressiva ainda. A previsão tombou de 19,57% para 19,42%. O swap de 360 dias caiu de 19,45% para 19,25%. Mesmo assim ainda projeta juro real elevado, de 12,96%. Como o DI futuro, os outros segmentos do mercado seguiram suas tendências naturais e técnicas. Nenhum deles sofreu a mínima interferência do pedido feito pela Procuradoria-geral da República ao STF para investigar operações feitas pelo presidente do BC, Henrique Meirelles. Em queda pesada, o dólar e o risco-país ignoraram o caso. A moeda americana caiu ontem 0,91%, cotada a R$ 2,6040. Foi a nona baixa seguida. Nesse período, já se desvalorizou 5,31%. O BC persiste indiferente ao movimento de baixa. Como os juros americanos de 10 anos estão em queda- cederam ontem de 4,47% para 4,42% -, o câmbio deverá testar os limites do BC. Irá buscar logo o preço de R$ 2,5630, definido no dia 17 de fevereiro, a cotação mais baixa do ano. O risco Brasil, que decolou até meados de março na esteira da disparada dos treasuries, tomou o caminho de volta. Caiu ontem de 459 para 445 pontos-base. A Bovespa ainda se ressente da saída de investidores estrangeiros. Desvalorizou-se ontem 1,32%, já a 25.695 pontos.