Título: Inflação sofre pressão do aço
Autor: Verdini, Liana; Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 04/03/2010, Economia, p. 21

O sinal de alerta foi aceso pelo governo, que já monitora de perto preço do insumo

O governo acendeu o sinal de alerta e passou a monitorar de perto os preços do aço. Diante do assanhamento da inflação, que deve levar o Banco Central a elevar a taxa básica de juros (Selic) a partir deste mês ou de abril, há o temor de que reajustes além da conta desse produto, contaminando cadeias importantes como a de automóveis e de eletrodomésticos, possam ser um combustível a mais para levar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) muito além do centro da meta de 4,5% definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

¿Não vamos permitir abusos¿, assinalou um dos principais integrantes da equipe econômica. Segundo ele, em junho do ano passado, diante da choradeira das siderúrgicas, que haviam reduzido drasticamente a produção de aço e demitido por causa da contração do consumo provocada pela crise mundial, o governo passou de zero para 12% a alíquota de importação do produto. ¿Ou seja, demos uma proteção importante a um setor em um momento difícil. Agora, vamos querer a contrapartida, ou seja, preços comportados. Do contrário, voltaremos a zerar a alíquota de importação do aço¿, avisou.

O alerta é mais do que justificado. Entre os produtores de eletrodomésticos, várias empresas já estão sendo obrigadas a arcar com novas tabelas de preços do aço ¿ os reajustes têm variado entre 5% e 10%. ¿Estamos preocupados, pois os sinais emitidos pelas siderúrgicas é de mais aumentos, uma vez que a Vale informou que reajustará o minério de ferro, a matéria-prima do aço¿, disse um empresário. Pelas projeções da corretora japonesa Nomura, o minério poderá ficar até 70% mais caro(1). ¿Portanto, os consumidores finais, as empresas, que compram máquinas e equipamentos, e as pessoas físicas, que adquirem carros e eletrodomésticos, devem se preparem. É sobre eles que recairá a conta¿, sentenciou o economista-chefe da Personale Investimentos, Carlos Thadeu Filho.

Demanda

Para Alexandre Gallotti, analista da Tendência Consultoria, o repasse da alta dos custos das siderúrgicas para os consumidores será facilitado pelo forte incremento da demanda. Pelas suas contas, as vendas de aço no mercado interno deverão ter incremento de 30% neste ano. Em 2009, com a economia mundial em crise, as vendas caíram 25%. ¿O momento é de recuperação da economia e, certamente, a tendência é de que aproveitem e repassem parte dos novos preços cobrados por seus fornecedores.¿

Gallotti ainda não consegue fazer uma projeção para o aumento de preço do aço. Mas acredita que, com a recuperação do setor industrial, principal consumidor de aço, haverá pressão das siderúrgicas por recomposição de margem. Na construção civil, porém, a ordem é evitar altas abusivas. Segundo o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, Paulo Safady Simão, o setor já montou sua estratégia para estimular o reajuste do aço. ¿Estamos importando boa parte do que consumimos¿, destacou.

1 - Procura chinesa A alta nos preços do minério de ferro está sendo impulsionada pela intensa demanda pelo produto no mercado à vista. O crescimento da China e a retomada do desenvolvimento econômico em outros países têm aumentado a procura pelo mineral, base para a fabricação do aço usado em diversos produtos industriais e de consumo.