Título: Bancos sugerem ao Brasil elevar superávit
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2005, Finanças, p. C8

O Institute of International Finance (IIF), associação de bancos internacionais, recomenda que o Brasil eleve a meta de superávit primário ao invés de continuar aumentando juros para controlar a inflação. Fazer isso solucionaria o "dilema" de política monetária, afirma um relatório divulgado ontem sobre a América Latina. O IIF, espécie de Febraban mundial, prevê crescimento de 44% do fluxo de recursos privados para a América Latina, atingindo US$ 43 bilhões este ano, bem acima dos US$ 30 bilhões do ano passado. O fluxo deve crescer com mais investimento direto e empréstimos bancários externos ao Brasil e México, segundo o relatório divulgado pouco antes do início da reunião anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), hoje em Okinawa, Japão. O IIF prevê um crescimento de 18% na emissão de bônus este ano, elevando o total líquido de captações (ou seja, excluindo as amortizações) de US$ 9,9 bilhões em 2004 para US$ 11,7 bilhões este ano. Depois do maior crescimento em mais de 20 anos atingido no ano passado, as taxas devem desacelerar em 2 pontos percentuais, prevê o IIF. O PIB regional crescerá 3,9%, abaixo dos 5,9% de 2004. A previsão para o crescimento brasileiro é de 3,3%, ante 5,2% em 2004. O IIF recomenda que o Brasil eleve as metas de superávit primário ao invés de elevar taxas de juros para conter a inflação. A elevação dos juros para coibir a inflação tem criado um "dilema para política monetária", segundo a entidade. Aumentar os superávits permitiria solucionar este dilema, evitando novos aumentos de juros para tentar controlar a inflação e a necessidade de intervir no câmbio para controlar a valorização do real provocada pelo aumento do diferencial de juros externos e internos. A meta de superávit primário para 2005 será 0,25 ponto percentual mais baixa que a do ano passado, 4,25%. E poderá ficar em apenas 4,1% do PIB, considerando o projeto-piloto para investimentos em infra-estrutura acordado com o FMI. O organismo elogia o desempenho das exportações brasileiras. A parcela de exportações de produtos manufaturados cresceu 32% no ano passado, com aumento de volume principalmente. As exportações de produtos básicos foram beneficiadas pela melhora dos termos de comércio (preços de commodities em alta). Apesar do endividamento ainda alto, o IIF acredita que o Brasil está reduzindo mais rapidamente do que o esperado a relação dívida pública e PIB, de 57,2% no início de 2004 para pouco mais de 51% no início do ano. A melhora do risco de diversos países latinos reduziu o diferencial de risco entre a América Latina e Ásia medido pelo índice EMBI, do JP Morgan, de 6,89 pontos percentuais no fim de 2002 para apenas 1,46 ponto em março deste ano. O aumento de exportações e maior credibilidade da política econômica deixam o Brasil menos vulnerável a choques este ano, acreditam os bancos. O Brasil é um dos poucos países da região a aumentar taxas de juros reais durante o ano passado. Na Argentina, por exemplo, o banco central (que não tem independência operacional como o BC brasileiro) tem mantido taxas de juros reais negativas desde abril do ano passado, afirma o IIF. Os índices de inflação começam a reagir, e a previsão do organismo é de que a taxa anual de 6,1% no ano passado chegue próxima a 10% este ano. Depois de uma taxa de crescimento de 9% puxada por exportações, a Argentina deve reduzir seu crescimento para 5,5%, principalmente por conta do menor superávit comercial. O aumento de importações com a reativação da demanda doméstica não está sendo compensado por crescimento das exportações e deve continuar reduzindo o superávit. O país pode enfrentar uma negociação longa com o FMI para um novo programa, depois do término de sua renegociação da dívida e adiar a volta aos mercados internacionais por problemas judiciais com credores. No mês passado, um fundo de investimento que não aderiu à troca conseguiu liminares na Justiça de Nova York bloqueando ativos do governo. O IIF foi um dos maiores críticos do processo de negociação da dívida argentina, mas teve que admitir no relatório que a adesão de 76% "deve ser considerada suficiente para que o FMI analise um novo programa" para o país.