Título: PFL faz carreira solo com Estado mínimo
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 08/04/2005, Política, p. A8

O PFL deu ontem o primeiro passo para a anunciada "refundação" do partido, prevista para maio, após a qual pretende se apresentar como alternativa ao PT e ao PSDB, nas eleições presidenciais de 2006. Num hotel às margens do Lago Paranoá, a sigla reuniu alguns dos principais economistas que serviram aos governos de José Sarney, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso para discutir seu novo programa econômico. Em síntese, o modelo econômico do PFL é conhecido e pode ser traduzido na expressão "Estado enxuto e eficiente". A novidade é a crítica ao "modelo econômico engendrado pelo PSDB e hoje gerido pelo PT", como diz o presidente do partido, Jorge Bornhausen (SC). Ele reconhece os méritos dos tucanos na estabilização da economia, mas ressalva que "o crescimento econômico continuará limitado por duas heranças da social-democracia - a hipertrofia do Estado e o protecionismo comercial". Participaram do seminário "Desenvolvimento com liberdade - um modelo para o Brasil", os economistas Cláudio Adilson Gonçalez, principal assessor de política econômica do ex-ministro Maílson da Nóbrega, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel, e José Pastore. O ex-ministro Gustavo Krause fará o texto final, resultado dos debates, a ser aprovado em maio. Segundo Bornhausen, "o modelo social-democrata exauriu-se, o crescimento foi relegado ao segundo plano e aumentaram os gastos públicos e a tributação". Para haver "menos impostos e mais crescimento", o PFL propõe a redução do Estado. O próprio Bornhausen dá exemplo de saídas. Um deles: a simplificação das competências entre os entes federados. Só o artigo 32 da Constituição, argumenta, tem 12 incisos com competências triplicadas. A crítica pefelista ao modelo tucano é um novo aspecto no contencioso entre as duas siglas, que começou no início de 2002 depois que a atual senadora Roseana Sarney (MA), então na ponta das pesquisas de opinião, teve de renunciar à sua candidatura presidencial, após a Polícia Federal invadir a sede da Lunus, empresa da qual era sócia com o marido, Jorge Murad. O incidente levou ao rompimento de uma parceria de oito anos no poder com FHC e Marco Maciel. Mais recentemente, o PFL participou de uma manobra que tirou a presidência da Assembléia Legislativa de São Paulo de um aliado do governador Geraldo Alckmin. O próprio governador classificou o episódio de "quebra de confiança", no que é respaldado pelo presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG). Bornhausen, no entanto, acha que o episódio paulista está sendo superestimado: "Não teve essa magnitude toda, é passageiro e secundário". Ontem, Azeredo e outros integrantes da cúpula tucana compareceram à abertura do seminário do PFL. As duas siglas mantêm a parceria na oposição a Lula no Congresso, mas, por enquanto, a conversa dos dirigentes é no sentido da candidatura própria em 2006 - aliança, só em eventual segundo turno. "Vamos fazer força para isso (a candidatura presidencial de Cesar Maia), não estamos entrando para brincar, mas para chegar lá", diz Bornhausen. Na avaliação do presidente do PFL, é importante que a oposição apresente duas ou três candidaturas, a fim de levar a eleição para o segundo turno, quando todos podem se unir contra a reeleição de Lula. O encontro da "refundação" será no Rio dentro da estratégia pefelista de ampla exposição do nome de Cesar Maia. A avaliação do partido é que o prefeito ainda tem como dar a volta por cima, após o desgaste que sofreu com a crise da saúde e a intervenção do governo federal em hospitais da cidade. O PFL espera uma queda na avaliação de Maia nas próximas pesquisas de opinião, mas tentará reverter essa expectativa, mantendo o discurso segundo o qual a intervenção no Rio é ilegal e só ocorreu porque o prefeito apresentou-se como pré-candidato à sucessão de Lula. Animado com a repercussão que a oposição à MP 232 teve na classe média, o PFL centra fogo na política econômica. Promete, mas, por enquanto, não tem um discurso social, a não ser a crítica ao gerenciamento dos programas tocados pelo governo.