Título: PT assumirá defesa da política econômica
Autor: Denise Neumann
Fonte: Valor Econômico, 08/04/2005, Política, p. A9

O documento que será discutido pelo campo majoritário do PT amanhã, no Rio, deve fazer uma defesa firme da política econômica posta em prática nos dois primeiros anos do governo. As premissas que pautaram a Carta ao Povo Brasileiro, em junho de 2002, serão reafirmadas e a intenção é que elas sejam oficialmente incorporadas ao programa do partido no 13º Encontro Nacional do PT, em dezembro, que também deve escolher os novos dirigentes. A ala majoritária deve apoiar a reeleição do atual presidente, José Genoíno. Assim, a política econômica posta em prática pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, será assumida pelo partido (pelo menos pela atual direção). Mas a defesa de um projeto de desenvolvimento, com investimento público em infra-estrutura e duplamente ancorado nas exportações e no fortalecimento do mercado interno, também estará presente no documento, costurando as visões da equipe econômica com a do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. A intenção dos dirigentes petistas é reafirmar os compromissos com o ajuste fiscal, a estabilidade monetária e a redução da vulnerabilidade externa, mas eles pretendem ir além. Há uma clara preocupação em marcar a diferença em relação à política econômica anterior e também definir o padrão de desenvolvimento que se busca. O texto vai argumentar que a política econômica posta em prática pelo governo Lula não pode ser resumida a uma política "ortodoxa" e tampouco deve ser vista como mera continuidade dos oito anos de governo tucano. A diferença - na avaliação dos petistas do campo majoritário - é que o governo está desenvolvendo um ajuste econômico inclusivo. A dimensão "social", portanto, é um dos elementos que marcariam a distância entre os dois partidos na visão do grupo petistas. Entre os resultados que serão utilizados para justificar essa avaliação, está o forte crescimento do crédito consignado, das contas simplificadas no Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal e também o avanço do microcrédito, ainda que em um ritmo inferior ao pretendido do governo. Essas medidas, segundo o PT, ajudam a explicar o crescimento de 5,2% no Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado. Ele não teria decorrido apenas de um arranjo natural dos agentes econômicos em um ano de expansão mundial. O documento vai assumir que ocorreu elevação de gasto público em 2004, mas este aumento será defendido como parte da reconstrução do Estado forte e regulador - outra diferença em relação à política econômica anterior e parte importante do modelo de desenvolvimento defendido pelo PT. O discurso dos dirigentes do PT é de que o aumento de gasto decorreu de contratações indispensáveis para a melhoria da atuação do Estado e também refletem a opção política do governo Lula pelos programas sociais. Em 2004, o número de servidores federais na ativa aumentou em 34 mil pessoas e da elevação total de R$ 13 bilhões nas despesas federais com custeio e investimento no ano passado (na comparação com 2003), 71% ocorreram nos ministérios da Saúde e Desenvolvimento Social, segundo documento disponível no site do Ministério da Fazenda. A abordagem de temas mais delicados como o tamanho do aperto monetário, a autonomia do Banco Central e a política cambial ainda é uma incerteza. Mas a intenção dos formuladores do documento é fugir de aspectos muito conjunturais, como a necessidade de iniciar ou não o processo de redução da taxa básica de juros ou se o BC deve ou não agir no mercado para evitar a excessiva apreciação cambial.