Título: Rivais crescem com escândalo na Kroll
Autor: Talita Moreira e Carolina Mandl
Fonte: Valor Econômico, 08/04/2005, Empresas &, p. B3

O escândalo das investigações na Telecom Italia fez mal aos negócios da Kroll no Brasil, país mais importante para a empresa na América Latina. Por outro lado, o episódio abriu espaço para as concorrentes que atuam no segmento de investigações corporativas no país. Desde julho, quando estourou a crise, a Kroll conquistou entre 20 e 30 clientes - a metade do que seria o ritmo normal. "Fomos afetados. O ritmo de negócios é menor do que era antes", diz o diretor-geral da Kroll para a América Latina, Andrés Antonius. Do setor público, por exemplo, a Kroll, que já investigou as denúncias de corrupção do ex-presidente Fernando Collor de Mello, não ganhou nenhum novo cliente. Os serviços para governos representam cerca de 10% da carteira de clientes da empresa, de acordo com Antonius. Na disputa, está um mercado que movimenta cerca de US$ 30 milhões no Brasil e que tem atraído a atenção de gigantes estrangeiras, como Control Risks, Citigate e Pinkerton. De acordo com estimativas das empresas, o tamanho potencial do setor é de US$ 200 milhões por ano. Mas, segundo Antonius, esse menor ritmo de investimentos não impôs uma redução nos seus quadros. "Não enxugamos a estrutura. Dos 50 mais de funcionários que tínhamos, cinco pediram para sair", afirma o executivo. A estrutura também foi alterada. Eduardo Sampaio, que ocupava a diretoria-executiva no Brasil, foi escalado para desenvolver a área de gerenciamento de risco da Marsh, corretora de seguros que comprou a Kroll em julho do ano passado. Desde então, o cargo está sendo dividido por Eduardo Gomide e Vander Giordano, que chegaram a ser presos na "Operação Chacal" da Polícia Federal. O inferno astral vivido pela Kroll permitiu o crescimento das empresas rivais, que sempre ocuparam uma fatia muito menor do mercado brasileiro. A americana Citigate dobrou sua carteira de clientes e alcançou em 2004 receita de US$ 2 milhões no país - 50% acima do valor registrado no ano anterior. "O crescimento aconteceu por causa dos problemas da Kroll", diz Billy Marlin, responsável pelas atividades da Citigate no Brasil. O mercado brasileiro representa 10% do faturamento mundial da Citigate. E, ironicamente, a empresa foi chamada pelo Citigroup para investigar a atuação do banco Opportunity no fundo CVC, controlador da Brasil Telecom. Foi uma investigação a pedido da operadora que detonou o escândalo envolvendo a Kroll. Outra empresa que tem visto seus negócios crescerem no país é Smith Brandon, cuja acionista é a ex-diplomata americana Gene Smith. Mas a executiva não relaciona a expansão aos problemas enfrentados pela Kroll. "Não é uma questão de pegar os serviços deles e sim de deixar com que os clientes saibam o que fazemos. Muitos nem têm idéia de que podemos ajudá-los", diz Smith. A Smith Brandon não tem escritórios no Brasil porque trabalha com a contratação de terceiros e da própria Smith, que morou no Brasil por cinco anos e hoje está baseada em Washington. É ela quem, em muitos dos 20 a 30 casos que trabalha anualmente, vem ao Brasil para atendê-los. A executiva diz que o país é hoje mais importante para a companhia do que o México. Apesar da reacomodação dos concorrentes no mercado, Marlin, da Citigate, ressalta que a má fase da Kroll não é boa para ninguém. "O que aconteceu com a Kroll é ruim para todas as companhias" afirma. "Cria um ambiente negativo porque os clientes ficaram apreensivos e o governo brasileiro também." Para a Kroll, o desafio agora é voltar a conquistar clientes no mesmo ritmo de antes. "Temos de respeitar o curso das investigações que estão em andamento. Até agora não há fato concreto que nos acuse", afirma Antonius. Além desse esforço, a Kroll ainda tenta retomar atividades que foram paralisadas em conseqüência da ação policial, quando foram levados do escritório em São Paulo computadores e documentos de casos em andamento. "Foi levada muita coisa. Alguns trabalhos estão sendo retomados agora", diz a advogada Joyce Roysen, que representa a Kroll.