Título: Guerra pelo poder no BB exibe vitória da política de ocupação de cargos do PT
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 08/04/2005, Finanças, p. C2

A troca de um técnico por um político na presidência do Banco Popular foi decisão pessoal do presidente Lula, para compor interesses eleitorais no Distrito Federal. Mas foi também o desfecho de uma renhida disputa de poder no Banco do Brasil, que expôs o grau de aparelhamento da instituição estatal pelo PT, uma guerra de bastidor cujo desfecho deve ser anunciado nos próximos dias pelo ministro Antonio Palocci (Fazenda) com a confirmação de Rossano Maranhão na presidência do BB. O economista Ivan Guimarães entregou sua carta de demissão da presidência do BPB na sexta-feira da semana passada, após resistir desde dezembro às pressões para que deixasse o cargo. A ordem chegou a ele por um dirigente do PT, a mando de Lula. Argumento do presidente: precisava do cargo para indicar Geraldo Magela, candidato derrotado do PT às eleições de 2002 para governador do DF. O presidente pensa em montar um "palanque forte" em Brasília com Cristovam Buarque (PT) ou até mesmo numa aliança branca com o PFL. Guimarães foi indicado a Palocci pelo tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Na eleição presidencial, ele era o adjunto de Delúbio na arrecadação de fundos para a campanha de Lula. No BPB, Guimarães aliou-se a Palocci e aos servidores de carreira, cuja visão do BB é a de um banco comercial, que deve competir no mercado e dar lucro, o que desagradou à ala do PT oriunda dos sindicatos de bancários, que advogam um "papel social" para o BB. O BB tem sete vice-presidências. Delas, hoje quatro são ocupadas por indicados do PT. Dos quatro integrantes da diretoria-executiva da Cassi (Caixa de Assistência dos Funcionários), dois são ex-dirigentes sindicais, um do Distrito Federal e outro da Bahia. O presidente e o principal assessor da Fundação Banco do Brasil também são indicações petistas - um ex-presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília e um ex-prefeito de Paracatu, município do interior de Minas. As relações entre os dois grupos se tornaram tensas em meados do ano passado, quando o então presidente do BB, Cássio Casseb, teve seu nome relacionado entre as pessoas que a CPI do Banestado investigava sob a suspeita de remessa ilegal de divisas. Guimarães recebeu ordens de Palocci para defender Casseb. Caiu de vez em desgraça entre seus antigos companheiros petistas. Para Geraldo Magela estava prevista a criação de uma nova vice-presidência do BB. Mas o Ministério da Fazenda bombardeou o projeto. Magela voltou-se para o BPB, com o apoio dos vices do núcleo sindical petista. Esse grupo é basicamente integrado pelos seguintes vices-presidentes: - José Luiz de Cerqueira César, vice de tecnologia e infra-estrutura, conhecido como o "Mexerica da Libelu", o grupo Liberdade e Luta, que também foi integrado por Palocci. Sua indicação para o cargo é atribuída ao ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo). - Luiz Osvaldo Santiago, vice de gestão de pessoas. Foi secretário da Fazenda de Icapui, município do interior do Ceará que era administrado pelo PT, espécie de menina dos olhos do partido. - Luiz Eduardo Franco de Abreu, vice de finanças, mercado de capitais e relação com investidores. Ex-diretor do BRB (Banco Regional de Brasília), é indicação dos bancários de Brasília, para os quais prestou consultoria. - Adézio Lima, vice de crédito e gestão de riscos, ligado ao PT de Minas Gerais, que o indicou. Trafega entre os dois grupos. Basicamente, esse grupo se opunha à linha adotada por Ivan Guimarães para o microcrédito, com financiamentos por meio de correspondentes bancários. Em pouco mais de um ano, concedeu R$ 20 milhões em crédito para 1 milhão de clientes de baixa renda. A opção do grupo é um projeto chamado DRS (Desenvolvimento Regional Sustentado), pelo qual as gerências do BB passariam a atuar diretamente na criação de redes sustentadas de produção em regiões específicas. Ou seja, dar prioridade a microempreendedores em vez da bancarização da população de baixa renda. Para montar a rede de 5,5 mil pontos de atendimento, chegar a 1 milhão de clientes e conceder R$ 20 milhões em crédito, Guimarães gastou R$ 20 milhões em publicidade e marketing. A informação foi repassada ao Senado, que o convocou para um depoimento. Sua explicação: gastara R$ 20 milhões na criação de uma marca, o BPB. No fim do ano, Lula avisou o PT que iria precisar do cargo. Voltou à carga em março, após uma partida de futebol na Granja do Torto, quando também deu sinal verde a Palocci para confirmar Rossano na presidência do Banco do Brasil. Em conversas reservadas, Guimarães queixa-se de ter sido vítima de permanente boicote. Além de municiar os senadores com informações, seus adversários no banco teriam, por mais de uma vez, deixado fora do ar os sistemas do BPB. A vice-presidência de tecnologia, do "Mexerica da Libelu", como ele costuma se referir a Cerqueira César, nunca teria entregado o sistema para o controle do numerário nas mãos dos correspondentes bancários. Vencida a batalha com Guimarães, os "sindicalistas" mantêm agora uma disputa pela vice-presidência de varejo e distribuição, ocupada por Edson Monteiro. É uma vice com poder de fogo político, encarregada da nomeação de superintendentes regionais e gerentes. Embora queira evitar a "partidarização" do banco, Palocci está sob forte pressão para substituir Monteiro. O ministro analisa também a nomeação de um vice-presidente de negócios internacionais e atacado, cargo antes ocupado por Rossano. Por enquanto, está inclinado a levar alguém de fora. Para "arejar" o ambiente.